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Novo ensino médio: o desafio do momento para a comunidade escolar

Começam a valer este ano as mudanças no ensino médio no Brasil. Entenda.

Fabrício dos Santos Indrusiak* Publicado em 15/01/2022, às 06h00

As mudanças no EM começam este ano
As mudanças no EM começam este ano

A Lei nº 13415/2017 alterou a LDB (Leis de Diretrizes e Bases) de 1996, trazendo para a comunidade escolar uma necessidade de reestruturação do Ensino Médio no Brasil a partir de 2022. Essa mudança dialoga com a ampla caminhada que a educação tem feito desde a Constituição de 1988, passando pela publicação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) em 1990, pela própria LDB de 1996, pela inserção da Educação Infantil como obrigatória, pela ampliação do Ensino Fundamental para 9 anos, e pela criação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Falamos tanto da falta de políticas de Estado que consigam ir além das políticas de governo, esta grande reformulação da legislação educacional nas últimas décadas no Brasil é exatamente isso.

Transformar o Ensino Médio em um curso que dialogue com a necessidade de um jovem imerso em informações, mas com poucas ferramentas para discerni-las, é, sem sombra de dúvidas, imprescindível. Em 2022, o Novo Ensino Médio virá para aproximar o aluno dos seus objetos de estudo, fazendo da escola um lugar onde as expectativas e as demandas desses estudantes serão contempladas e supridas de modo mais concreto.

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O ensino generalista que temos até aqui nos entrega um educando que estudou tudo de tudo, e que sai da escola sabendo um pouco de quase nada. Negar que o nosso modelo de ensino fracassou não é defender o professor, mas condená-lo a ser eternamente derrotado pelo Google e por outros sites de busca. A educação é feita de trocas — troca de conhecimento, de afeto, de empatia e de ideias (a pandemia nos provou o quanto ainda precisamos do grupo para a construção do indivíduo ). Nessa perspectiva, o professor é, portanto, um mediador, um agente capaz de ajudar o aluno na construção da criticidade, da capacidade de analisar e de problematizar a realidade. O Novo Ensino Médio permite ao professor não mais ensinar em que ano Cambises, o Persa, invadiu o Egito, mas ajudar o estudante a compreender qual a importância dessa fusão cultural para a história do Ocidente.

No novo modelo, o tempo mínimo de permanência do aluno na escola será ampliado. Muito pouco ainda, mas já é 25% a mais do que tínhamos anteriormente. Isto pretende aumentar o protagonismo do estudante no seu processo de aprendizagem, formando um adulto mais competente e autônomo, tanto acadêmica quanto socioemocionalmente. Mas como será a aplicabilidade do novo projeto a partir de 2022? Os alunos de nono ano, após dois anos caóticos de pandemia, estão minimamente preparados para tomar as decisões sobre os Itinerários Formativos? A rede pública conseguirá ofertar para os seus estudantes, opções qualificadas de trilhas que não limitem ainda mais suas possibilidades de sonhar e de alcançar seus objetivos? Os professores receberão apoio, formação e liberdade para propor dentro desse novo projeto? Os pais saberão respeitar a construção da vontade dos filhos quando essas colidirem com as suas?

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Todos sabemos que da forma que estamos não podemos continuar, que o barco do Novo Ensino Médio partirá em 2022, e que precisaremos aprender e corrigir muitas vezes o caminho trilhado pelas escolas nos próximos anos. Afinal, a educação nunca estará pronta, ela está, e precisa estar, sempre se reconectando com o mundo, com as tecnologias e com as pessoas.


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Fabricio dos Santos


*Fabrício dos Santos Indrusiak é professor e Diretor Operacional da Rede de Ensino Gabarito: Licenciado em História pela UFRGS;
Professor há 19 anos na Educação Básica e Pré-Vestibular;
Experiência de Gestão do trabalho pedagógico e operacional no Ensino Fundamental e Médio há 7 anos.
Coordenação pedagógica de cursos pré-vestibular há 11 anos.

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