Papo de Mãe

O que a ansiedade de uma mãe pode refletir na vida de seu filho?  

Todos nós sabemos que o estado emocional da mãe é um fator importante para a saúde emocional de seu filho. Mas como o estado emocional de mãe ansiosa pode afetar as conexões do cérebro de seu filho? 

Roberta Manreza Publicado em 02/12/2020, às 00h00 - Atualizado em 03/12/2020, às 09h33

Imagem O que a ansiedade de uma mãe pode refletir na vida de seu filho?  
2 de dezembro de 2020


Mães ansiosas e as consequências 

Todos nós sabemos que o estado emocional da mãe é um fator importante para a saúde emocional de seu filhoMas como o estado emocional de mãe ansiosa pode afetar as conexões do cérebro de seu filho?

Para entender melhor  essa relação, vamos refletir sobre alguns dados encontrados em pesquisas importantes neste contexto sobre o papel do ambiente na formaçãodo cérebro da criança. 

Este tema nos exercita a uma reflexão importante. Como promover crescimento do cérebro saudável? Quais os direitos que deveríamos garantir às crianças em relação a estilos de vida e desenvolvimento? Ou seja, quais oportunidades estamos oferecendo para nossos filhos?

Fugir de situações estressantes e manter a tranquilidade é uma das principais recomendações para as futuras mamães garantirem o bem estar de seus filhos, apesar de termos contato com estas informações sociais e proclamadas pelas mídias, temos pouca informação de como as redes neurais macroscópicas funcionais do feto são construídas na influência da gestação e como o desenvolvimento do cérebro do filho é afetado quando a mãe é ansiosa.

A gestação e a maternidade envolvem mudanças físicas, hormonais, sociais, familiares, profissionais e psicológicas. Cada vez mais a comunidade científica tem investigado essas mudanças e o que elas desencadeiam na vida das mães e de seus filhos. São tantas as transformações e reestruturações que uma gestante enfrenta: as preocupações e pressõesnão acabam quando o filho nasce. Formar uma criança, sem dúvida é uma das maiores responsabilidades e desafios que uma pessoa atravessa. Essamudanças têm sugerido hipóteses de que mulheres grávidas são mais vulneráveis a desenvolverem psicopatologias importantes como ansiedade e depressãoEste fatores contribuem significativamente para morbidade e mortalidade, que constitui um importante problema de saúde pública em todo o mundo. E o quanto tudo isso afeta a vida dos filhos é uma pergunta necessária.

O desenvolvimento do vínculo e de um relacionamento saudável entre a mãe e o bebê é um dos processos psicológicos mais importantes após a gestação. O tipo de relacionamento que será adotado é determinante para a construção de um relacionamento único, que repercutirá num longo período de tempo.

Problemas psicopatológicos, como a depressão e a ansiedade,têm sido relatados como influenciadores da relaçãoe e filho há tempos por pesquisas de destaque mundial.Na verdade, tudo pode ser analisado como uma via de mão dupla: a existência de perturbações ansiosas precoces na relação mãe e filho pode desencadear prejuízos para ambos, pode intensificar sintomas ansiosos na mãe e comprometer o desenvolvimento saudável do filho, com consequências a longo prazo na vida da criança, ocasionando até riscos de distúrbios psiquiátricos relacionados e problemas de aprendizagem.

O relacionamento entre mãe e filho é influenciado por vários fatores como o temperamento de ambos, a experiência anterior com a maternidade, a saúde mental da mãe, crenças culturais, caraterísticas comportamentais, apoio familiar, idade materna,  relação marital,  nível socioeconômico e outros.

Pesquisas sugerem que as mães que possuem ansiedade durante a gestação e após  o parto sofrem representações mais negativas de si mesmas e de seus filhos e desenvolvem um relacionamento materno mais frágil, podendo ocasionar prejuízos sérios para a criança. A relação possui interações mais superficiais na verbalização,olhar, escuta, ocasionando menor reciprocidade, pouca afetividade e trocas menos significativas.  O tempo com qualidade é bem menos frequente.Nessa perspectiva, a pergunta fundamental que fazemos é seos sintomas da ansiedade materna trazem prejuízos para o filho.

De forma geral, estudos feitos por pesquisadores alemães mostraram que bebês de mães que sofrem de ansiedade apresentavam sinais de estresse mais fortes e um aumento significativo dos batimentos cardíacos que podem repercutir em tensões emocionais no futuro.  Quando a mãe apresenta emoções negativas, ela exerce influência direto no bem estar de seu filho, transmitindo sensações negativas que são modeladas e aprendidas pela criança.Algumas pesquisas apontaram que bebês de mães ansiosas, quando a mãe retirava atenção deles, apresentavam um aumento significativo na frequência cardíaca em relação aos filhos de mães saudáveis.

Pesquisadores americanos, utilizando técnicas de ressonância magnética funcional (FMRI), demonstraram que o estado emocional da gestante pode resultar em alterações neurais nos fetos. Os resultados foram apresentados na reunião da Sociedade de Neurociência Cognitiva, em Boston. As grávidas que participaram do estudo viviam em condições afetadas pelo estresse e apresentavam relatos de altos níveis de ansiedade e preocupação. Foi descoberto que as gestantes que apresentavam maior nível de estresse possuíam fetos com eficiência reduzida nos sistemas funcionais neuraisO estresse da mãe durante a gravidez se reflete em propriedades conectivas do cérebro em desenvolvimento de seu filho. Isso já havia sido teorizado há um certo tempo, mas apenas recentemente foi comprovado através deste estudo. Um aspecto muito relevante desta pesquisa é que ela sugere que as condições de gestação da mãe influenciam no que a criança irá se tornar, em seus traços de personalidade, na inteligência e na cognição.

Testes foram feitos na estrutura do conjunto de células, que é responsável por nutrir os neurônios e o gânglios cerebrais. Os pesquisadores descobriram que os bebês que possuem mães ansiosas antes ou durante a gravidez apresentaram alterações nessas estruturas.

As principais mudanças foram observadas na parte que conecta a cabeça com a amígdala até o córtex pré-frontal, área que atua nas emoções, aprendizado e memória. As respostas cerebrais nessa área foram associadas a distúrbios psiquiátricos, como comportamento antissocial,  ansiedade, TOC e transtornos do humorA explicação encontrada referente aos danos é o excesso de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, que é capaz de atingir o bebê por meio da placenta e afetar o seu desenvolvimento. Os pesquisadores também observaram um aumento de noradrenalina, neurotransmissor com influência na ansiedade,  humor e sonoassim como aqueda da dopamina e da serotonina, substâncias conhecidas como hormônios da felicidade

Os bebês de mães ansiosas também foram classificados por suas mães como tendo um temperamento mais difícil do que bebês de mães saudáveis.Os estudos apontaram que se uma mãe estava ansiosa, seu bebê apresentava uma resposta fisiológica mais sensível ao estresse durante os testes do que os bebês de mães saudáveis. 

Caso você perceba que sofre de ansiedade, procure refletir e treinar atitudes mais saudáveis, sem pressão ou culpa, pois existe a chance de aprender novas formas de exercer a maternidade, com maior saúde mental. Procure mudar seu estilo de vida, praticar uma rotina que inclua maior bem estar. Não desista e procure ajuda profissional, se necessário.  É importante perceber, identificar e tratar.

Por Kênia Braga Gondo

Diretora e fundadora da VIVAPLENO – Saúde Mental Clínica e Corporativa.

http://www.vivapleno.com.br

@vivapleno




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