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Volta às aulas presenciais: o que esperar e como lidar?

O psiquiatra Gustavo Estanislau comenta o que esperar do retorno presencial e dá dicas aos pais de como preparar as crianças para os primeiros dias de volta às aulas

Maria Cunha* Publicado em 02/08/2021, às 16h05 - Atualizado às 17h10

Os pais devem se preparar para reações de insegurança da criança, que já está adaptada a uma rotina diferente.
Os pais devem se preparar para reações de insegurança da criança, que já está adaptada a uma rotina diferente.

Hoje, dia 2 de agosto, ocorreu o retorno das aulas presenciais. As escolas devem continuar com o distanciamento social, mas podem receber até 100% dos alunos. O psiquiatra infantil Gustavo Estanislau comenta a situação contando o que esperar do retorno presencial e da volta às aulas.

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O que esperar?

De acordo com o Dr. Gustavo Estanislau, importante considerar que tem muitas crianças que querem voltar para a escola e famílias que estão motivadas para que a criança retorne e reveja os amigos. Mas, também existem crianças que ficaram por bastante tempo dentro de casa.

“Isso quer dizer que elas não se expuseram a muitos estímulos novos, e o cérebro, quando se expõe, pode começar a ficar mais alerta aos estímulos, então voltar para escola é quase como uma novidade”, explica o psiquiatra.

A criança, então, pode reagir num estado de alerta mais intenso do que deveria e isso pode acaba gerando reações de medo, de preocupação e levar à irritação. Também é possível a apresentação de sintomas de ansiedade, como dor de barriga, dor de cabeça e dificuldade para dormir. “A criança pode ficar mais manhosa e chorona”.

Por outro lado, o Dr. Gustavo Estanislau afirma que com o fato das crianças terem se afastado tanto tempo de um monte de coisas, elas também podem estar mais desmotivadas, com uma possibilidade menor de sentir prazer em relação a interagir com as pessoas, jogar jogos, fazer atividades.

“Então, a gente tem esse tipo de panorama que também pode acontecer, um panorama de ansiedade e desânimo”, conta o psiquiatra.

Em um último ponto, o Dr. Gustavo Estanislau lembra que estamos falando do ponto de vista da criança, mas uma coisa fundamental quepode ser esperada nessa volta é também que muitos pais estejam mais tranquilos, e outros pais e cuidadores mais inseguros em relação à questão da Covid.

“Também podem ser cuidadores que ficaram também muito tempo dentro de casa, se expondo pouco a estímulos e que agora, ao se deparar com estímulos de novo, podem ficar mais inseguros, mais medrosos”.

O psiquiatra reforça que, principalmente para crianças menores, isso é muito significativo, pois crianças menores precisam mais do adulto como um tradutor das situações que estão acontecendo à sua volta, se esse cenário é perigoso ou se não é. Então, a saúde mental dos pais também é muito importante.

Já para um pré-adolescente ou um adolescente, ele já tem uma certa noção do que está acontecendo e uma pouco de uma percepção própria.

Dicas aos pais

A partir do seu ponto de vista como médico psiquiatra, o Dr. Gustavo Estanislau elaborou algumas dicas direcionadas aos pais para o retorno presencial dos filhos nas escolas:

  1. Cuidar da saúde mental

Uma coisa que é fundamental, principalmente ao cuidar de crianças menores, é a questão da saúde mental dos pais e a percepção das coisas, como os pais estão reagindo a esse cenário, é essencial para as crianças dessa faixa etária menor, obviamente isso impacta também adolescentes e pré-adolescentes, mas para crianças menores se impacta mais.

“Então, um bom ponto de partida é que os pais possam pensar a respeito desse retorno e tentar achar um ponto de equilíbrio dentro de si, no sentido de não estarem muito angustiados com essa volta, de tentar interpretar essa volta da melhor maneira possível. Um pai ou uma mãe muito angustiado, acaba influenciando o seu filho ou filha a interpretar as coisas dessa maneira”, afirma o Dr. Gustavo Estanislau.

Assim, é muito importante que os pais, se tiverem muito angustiados, conversem com alguém, inclusive com a escola dos filhos para saber a perspectiva de como é que estão as coisas, tudo no sentido de tentar se tranquilizar.

“É preciso que a energia que vem dos pais, dos cuidadores, esteja equilibrada, para que a criança possa voltar com tranquilidade”.

  1. Retomar uma rotina com os filhos

É importante que nesses próximos dias as crianças possam voltar para uma rotina menos de férias, menos flexível.

“Com os pais e cuidadores em casa, a gente tem uma flexibilidade maior por uma série de coisas importantes. É preciso que os pais agora comecem a retomar uma rotina um pouco mais estrita”, diz o psiquiatra.

  1. Reduzir o uso de aparelhos eletrônicos das crianças

Outra coisa bastante importante nessa volta, principalmente para as crianças que estão utilizando muitos aparatos eletrônicos de uma forma geral, é reduzir a intensidade, o volume de horas on-line e coisas do tipo.

“Esses aparatos eletrônicos tendem a disparar o circuito de recompensa das crianças de uma forma muito intensa, então para crianças que podem estar um pouco mais desanimadas com outros estímulos que não sejam os jogos eletrônicos, para crianças que estão mais inseguras, a criança desligar os jogos eletrônicos que são coisas que recompensam o cérebro de uma forma muito intensa, para escolher ir para a escola, que inicialmente não parece para muitas crianças uma atividade muito recompensadora, pode ser perigoso, é estimular demais o cérebro de uma forma não natural”, explica o psiquiatra.

  1. Ser flexível
“Nos primeiros dias de aula, como a desmotivação e a insegurança podem estar um pouco mais intensas, que os pais sejam flexíveis nesse retorno, no sentido de exigências quanto a desempenho, que as crianças possam brincar um pouco mais, que elas possamse sentir mais mais motivadas para voltar”.

O Dr. Gustavo Estanislau relata que se a gente pressiona muito, por desempenho, por exemplo, o desânimo e a ansiedade tendem a ganhar da vontade de voltar.

“A gente usa um termo na psicologia que se chama custo de resposta, que é o quanto a pessoa precisa se esforçar para desempenhar um comportamento, se a gente puder baixar o custo de resposta, isso faz com que a criança se sinta mais à vontade para voltar”.

  1. Se preparar para o "desmame" dos filhos

“Uma coisa legal é que os pais se preparem agora para o "desmame" dos filhos também. Isso é muito importante, a gente fala muito da dificuldade que as crianças podem tem para se desconectar dos pais, mas a gente vê também o quanto é difícil para os pais se desconectarem dos filhos”, conta o Dr. Gustavo Estanislau.

Então, é necessário os pais se prepararem e estarem prontos para reações de insegurança e de angústia da criança, que já está adaptada a umarotina diferente, com os pais em casa.

“Quanto mais eles puderem ser firmes, mas ao mesmo tempo amorosos, entendendo asangústias da criança, mas com uma firmeza importante, a criança sofrerá menos e esse período de adaptação será o mais breve possível”.

  1. Traga estímulos para dentro de casa

Para as crianças que estão tendo mais dificuldade de retornar, que nesse período todo se adaptaram muito aos pais dentro de casa e se desadaptaram a se expor a atividades novas e diferentes, uma estratégia que pode funcionar é trazer, com mais frequência, uma outra criança para brincar com os filhos dentro de casa.

“Seria trazer os estímulos que a criança vai, daqui a pouco, ter que começar a se expor, para dentro de casa, onde a criança se sente mais segura. Então, a criança pode estar, por exemplo, desanimada em relação a rever os amigos ou pode estar insegura em relação a rever outras crianças, mas se a gente traz estímulo para dentro de casa, traz um amigo, a criança tende a se sentir mais confortável pra se readaptar, se motivar e perder o medo para voltar para a escola”, pontua o médico.

Outra coisa que pode ser feita, além dos amigos, é fazer algumas atividades dentro de casa, como atividades físicas que simulem as coisas feitas na escola.

*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe

Assista ao programas do Papo de Mãe sobre volta às aulas na pandemia

https://www.youtube.com/watch?v=o7VdU-9Jlfk - volta às aulas

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