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Único entre mamíferos, leite materno é ‘quebra-cabeça’ para cientistas

Roberta Manreza Publicado em 20/04/2016, às 00h00 - Atualizado às 11h47

Imagem Único entre mamíferos, leite materno é ‘quebra-cabeça’ para cientistas
20 de abril de 2016


O ESTADO DE S. PAULO

Substância tem 200 tipos de moléculas de açúcar, acima da média encontrada no leite de vaca; papel de cada uma ainda é estudado

Leite materno tem mais de 200 tipos de moléculas de açúcares

Leite materno tem mais de 200 tipos de moléculas de açúcares

O leite materno humano é único entre os dos mamíferos e pode ser o mais complexo de todos, com seus mais de 200 tipos de moléculas de açúcares, muito acima da média de 30 a 50 encontrada no leite de ratos e vacas leiteiras.

O papel de cada um desses açúcares e o motivo pelo qual sua composição muda durante a lactação ainda é “um quebra-cabeças científico”, mas pode ter relação com o sistema imunológico e o desenvolvimento do microbioma intestinal (microrganismos que habitam no trato intestinal), afirma um estudo publicado nesta terça-feira pela revista “Trends in Biochemical Sciences”.

O leite materno costuma ser o primeiro alimento do recém-nascido, mas muitas das moléculas de açúcares não são destinadas a alimentar o bebê. As crianças nascem sem bactérias no intestino, mas em poucos dias já têm milhões e uma semana depois passam a ser bilhões.

Reuters

Os açúcares procedentes do leite materno são normalmente o primeiro composto que essas bactérias têm ao alcance, “um almoço de graça” destinado a criar espécies bacterianas.

O primeiro leite materno favorece a colonização do intestino por grupos específicos de bactérias que podem digerir esse tipo específico de moléculas de açúcares, disse um dos autores do estudo, Thierry Hennet, do Instituto de Fisiologia da Universidade de Zurique, em comunicado.

“Os bebês não têm os mecanismos para digerir esses açúcares, por isso são destinados às bactérias. É como se fosse um terreno de cultivo e o leite materno fosse o fertilizante”, explicou o especialista.

Outra de suas funções é ajudar a criar o novo sistema imunológico do bebê, rico em anticorpos e moléculas que desaceleram o crescimento das bactérias nocivas e coordenam a atividade dos glóbulos brancos.

Um mês depois do nascimento, quando a criança começa a desenvolver um sistema imunológico adaptado e próprio, o nível de anticorpos maternos no leite diminui mais de 90% e há menos açúcares, o que indica que ocorre uma melhor seleção de espécies bacterianas para o intestino.

O leite se transforma para fazer frente às novas necessidades com um aumento da quantidade de gorduras e outros nutrientes que apoiam o crescimento da criança.

No entanto, um bebê pode crescer saudável com uma contribuição limitada ou inclusive sem nunca ter provado leite materno, o que cria polêmica entre os defensores da alimentação natural e da artificial.

“Temos que ser muito cuidadosos ao fazer recomendações. Por um lado, o leite materno é o resultado de milhões de anos de evolução e, claro, possui todo os nutrientes adequados para um recém-nascido, mas a questão é: durante quanto tempo o bebê realmente necessita este alimento? Achamos que as famílias deveriam tomar essa decisão, e não os cientistas”, disse Hennet.

A alimentação materna reduz a mortalidade infantil e diminui significativamente os riscos de infecções intestinais e das que são transmitidas pelo ar, mas há pouco respaldo sobre os benefícios a longo prazo, acrescenta o comunicado.

O que os pesquisadores podem fazer, segundo o estudo, é continuar a trabalhar para entender o papel de cada uma das moléculas do leite materno, o que agora é mais fácil graças à tecnologia de sequenciamento genético. /EFE

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