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Referências dos filhos adolescentes

O ator e escritor Vinicius Campos fala da relação dos pais com os amigos dos filhos: a responsabilidade de ser uma referência para os jovens

Vinicius Campos* Publicado em 10/09/2021, às 12h08

Acompanhar o crescimento dos amigos dos nossos filhos é gratificante porém também requer responsabilidade
Acompanhar o crescimento dos amigos dos nossos filhos é gratificante porém também requer responsabilidade

Ontem à noite vieram três amigos do meu filho, de dezessete anos, jantar em casa. Nossa casa costuma estar cheia de amigos deles e nossos. Sempre gostei de receber visitas, e eles estão na idade que toda hora querem trazer alguém. Às vezes não deixo e me sinto minha mãe dizendo que está cansada e não aguenta mais ter tanta gente pra comer.

Adolescente come!

O bom de trazer os amigos dos filhos é que a gente escuta histórias, os vê atuando com seus amigos, e percebe que aquilo que costumamos dizer o tempo todo, e que parece que entra por uma orelha e sai pela outra, na verdade fica com eles, e na hora de se relacionar com seus pares, aparece o nosso jeito de ver o mundo um pouco reciclado, mas o básico está lá, e a sensação de alívio é enorme.

É chamativo ver que, apesar de estarmos no século vinte e um, continuam existindo barreiras e pouco diálogo entre pais e filhos. Percebo no que dizem os amigos de meus filhos, em suas atitudes, em suas tentativas de se aproximar de mim e de meu marido. 

No jantar, eles contaram situações que aconteceram na escola, falaram sobre suas vidas, fizeram questionamentos políticos, revelaram sonhos e projetos. Em muitos momentos senti que eram meninos precisando que alguém os escutasse.

Claramente seus pais devem fazer um esforço enorme para dar conta de todas as demandas, mas sabe aquele ditado? "É preciso de toda uma vila para educar uma criança." Pois é, é muito certo.

Quando nos tornamos pais, nos transformamos em guias não só de nossos filhos, mas de toda criança ou adolescente que precisa de nós. Acompanhar o crescimento dos amigos dos nossos pequenos é gratificante porém também requer responsabilidade. 

O que dizer, como dizer, quanto dizer?

A adolescência é uma época de crise. Crescer e continuar sendo pequeno. Amadurecer e ter que lidar com o medo de deixar o conforto da infância. Precisar de acompanhamento e se irritar com aquele que dá ordens. Com tantas contradições, ter um adulto de referência que não é o pai, nem a mãe, nem o professor, pode ser um alívio em meio a tanto caos.

Um dos amigos do meu filho diz que somos amigos, ele sente assim nossa relação. Óbvio que há um carinho enorme entre nós, porém meu lado adulto, aquele que olha distante e sabe da responsabilidade de educar, entende que não é amizade, mas sim uma relação amistosa, onde encontro espaço para aconselhá-lo, protegê-lo e acompanhá-lo. Uma versão "light" de ser pai.

Da mesma forma que na ausência de proteção ele procura a mim, poderia procurar outros adultos como referência. E é nessa insegurança adolescente, nessa busca por contenção que aparecem os perigos. 

Se nossos filhos não se sentem escutados e protegidos por nós, se não sentem liberdade para falar abertamente de suas questões, inclusive relacionadas a drogas, sexo, problemas, dores, procurarão em outros adultos alguém que lhes escute. 

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Dá medo que eles procurem a pessoa errada?

Muito. 

Por isso que como pais temos que estar sempre prontos para escutá-los, aberto a suas questões, ter sempre uma palavra de amor e proteção. Se soubermos acolher nossos pequenos pode ter certeza que na hora de escolher outras pessoas em quem confiar, o instinto falará mais alto e eles saberão identificar o perigo.

*Vinicius Campos, escritor e pai de 3 adolescentes – Colunista do Papo de Mãe.
instagram: @viniciuscamposoficial

Assista ao Papo de Mãe sobre os pais como modelo para os filhos. 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Papo de Mãe. 

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