Papo de Mãe

Por que o fumo passivo é tão prejudicial a grávidas e crianças

Roberta Manreza Publicado em 03/03/2015, às 00h00 - Atualizado às 08h31

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3 de março de 2015


Dados mostram que as leis antitabagismo já estão melhorando a qualidade de vida das famílias, mas ainda há muito o que ser feito

Por Andressa Basilio Revista Crescer

Fumar em ambientes fechados de uso coletivo é proibido em todo o Brasil. Alguns estados já contavam com regras próprias antitabagismo, mas a partir da vigência da Lei 12.546, o veto passou a valer em todo o território nacional. A notícia é positiva para a saúde da população em geral, mas principalmente para os bebês que ainda estão dentro da barriga, mesmo nos casos em que a gestante apenas convive com fumantes. Isso porque as substâncias presentes no cigarro não se dissipam com a primeira corrente de ar que passa através da janela. Pelo contrário, permanecem na pele, nas roupas e no cabelo e até nos móveis da casa. Os efeitos podem ser mais intensos para crianças em formação do que para a mãe exposta à fumaça. Isso por que as partículas podem causar o estreitamento dos vasos na região da placenta, o que diminui o fluxo sanguíneo e restringe a passagem de nutrientes, prejudicando o crescimento fetal. Há estudos que acusam malformação, embora ainda haja necessidade de mais pesquisas nesse sentido.

De acordo com dados apresentados no Women’s Health Initiative (WHI), projeto que mapeia a saúde feminina nos Estados Unidos, as mulheres expostas à fumaça do tabaco têm ainda risco aumentado de complicações na gravidez, incluindo aborto espontâneo, morte fetal e gravidez ectópica (fora da cavidade uterina). Para cada complicação da gestação, o risco varia de 17% a 61% em mulheres expostas ao cigarro, seja durante a infância, em casa ou no trabalho.

A fumaça dentro de casa

Um artigo publicado na revista Pediatrics, jornal oficial da Academia Americana de Pediatria, apresentou uma revisão de estudos que mostram que o pai do bebê é a primeira fonte de fumaça do cigarro, seguido pelos colegas de trabalho. De acordo com Jo Leonardi-Bee, uma das autoras do estudo, parar de fumar deveria ser um pré-requisito antes mesmo de a mulher engravidar, já que o cigarro afeta a qualidade do esperma do homem.

A autora defende que é preciso encontrar boas intervenções de saúde pública para reduzir a exposição das gestantes ao fumo passivo. Uma possibilidade seria o parceiro buscar por tratamentos de cessação de tabagismo, como terapia de reposição de nicotina, e exercitar a abstinência pelo menos quando estiver em casa ou no carro na companhia da esposa. Mesmo que a pessoa fume e depois lave as mãos ou tome um banho, o suor passa nicotina para a pele e por contato para as outras pessoas.

As estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que uma em cada quatro crianças brasileiras estão expostas aos efeitos nocivos do cigarro dentro de casa. Outro dado preocupante é que as infecções respiratórias são a principal causa de morte por fumo passivo. Bronquiolite, asma, pneumonia, broncopneumonia, sinusite e infecções do ouvido são as doenças mais comuns que podem acometer as crianças em contato com a fumaça do cigarro. Isso porque o monóxido de carbono estreita os brônquios e as vias aéreas. Pesquisadores da Universidade de Atenas, na Grécia, descobriram que uma pessoa precisa de apenas 20 minutos de exposição a altas concentrações de fumaça de cigarro para sofrer alterações fisiológicas no aparelho respiratório.

Ponto positivo para o combate ao fumo

A batalha contra o tabagismo precisa de mais reforços para ser vencida, especialmente no Brasil, onde 11% da população ainda fuma. O número tem diminuído porque as políticas antitabagistas parecem estar funcionando, mas mais esforços são necessários para eliminar esse hábito, que além do câncer em órgãos do aparelho respiratório, pode causar outros males, como tumores na bexiga ou nos rins, hipertensão e doenças reumáticas. A lei federal que acaba de entrar em vigor é mais uma tentativa nesse sentido e proíbe o fumo de cigarrilhas, charutos, cachimbos, narguilés e outros produtos em locais de uso coletivo, públicos ou privados, como hall e corredores de condomínio, restaurantes e clubes, mesmo que o ambiente esteja parcialmente fechado por uma parede, divisória, teto ou até toldo. Se os estabelecimentos comerciais desrespeitarem a norma, podem ser multados e até perder a licença de funcionamento.

A norma também extingue os fumódromos e acaba com a possibilidade de propaganda comercial de cigarros até mesmo nos pontos de venda. Os produtos podem ser expostos somente quando acompanhados por mensagens sobre os males provocados pelo fumo. Além disso, os fabricantes vão ter de aumentar os espaços para os avisos sobre os danos causados pelo tabaco. Agora, eles devem aparecer em 100% da face posterior das embalagens e de uma de suas laterais.

Será permitido fumar em casa, em áreas ao ar livre, parques, praças, em áreas abertas de estádios de futebol, em vias públicas e em tabacarias, que devem ser voltadas especificamente para esse fim. Entre as exceções também estão cultos religiosos, onde os fiéis poderão fumar, caso isso faça parte do ritual.

A melhora de efeitos em fumantes passivos ainda não foi medida por aqui. Porém, uma revisão de 14 estudos online feitos em várias cidades dos Estados Unidos mostrou que legislações antifumo foram associadas com reduções na prematuridade e atendimento hospitalares por asma em crianças. A notícia é boa, mas, antes de medidas políticas, é necessário maior conscientização da população fumante com a percepção de que eles podem tornar não só suas vidas mais saudáveis, mas também as vidas daqueles que amam.

Fontes:Rossana Pulcineli, professora do departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Sociedade Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (SOGESP); Fátima Rodrigues Fernandes, alergoalergista e pediatra da Escola Paulista de Medicina.

Dica: Neste domingo (08/03/15), 15h30, na Tv Brasil,  assista ao Papo de Mãe inédito sobre Asma e Bronquite.

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