Papo de Mãe

A agressão verbal machuca, no mínimo, tanto quanto a agressão física

Roberta Manreza Publicado em 07/06/2016, às 00h00 - Atualizado em 23/06/2016, às 19h36

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7 de junho de 2016


Psiconlinebrasil 

Repreensões, xingamentos, gritos, insultos, ameaças, ridicularizações, humilhações, e críticas podem ser tão prejudiciais quanto um abuso físico ou sexual, observa um relatório na edição de abril da Mental Harvard Health. O relatório sugere que quando a agressão verbal é constante e grave, ele cria um risco de transtorno de estresse pós-traumático, o mesmo tipo de colapso psicológico muitas vezes experimentado por soldados.

A pesquisa em que o relatório se baseia aponta ainda que crianças que são alvos de maus tratos verbais frequentes apresentam taxas mais elevadas de agressão física, delinquência e problemas sociais do que outras crianças.

Muitos estudos correlacionam o abuso físico e sexual a efeitos no cérebro e no comportamento, mas os maus tratos emocionais nunca receberam a mesma atenção”. A exposição à agressão verbal tem recebido pouca atenção como uma forma específica de abuso”, observa Martin Teicher, professor de psiquiatria no Hospital McLean. “Mesmo que um estudo nacional tenha revelado que 63 por cento dos pais norte-americanos tenham relatado que ocasionalmente se utilizam da agressão verbal como recurso para a educação dos filhos.”

Outras pesquisas associaram a agressão verbal na infância com um risco significativamente maior de desenvolver uma personalidade instável, irritada, comportamentos narcisistas, transtornos obsessivo-compulsivo e paranoia.

“A agressão verbal pode também ter consequências mais duradouras do que outras formas de abuso, porque geralmente é contínua”, afirma Teicher. “E em combinação com o abuso físico e a negligência, pode produzir o resultado mais terrível. No entanto, agências de proteção à criança, médicos e advogados estão mais preocupados com o impacto do abuso físico ou sexual”.

Esta situação incentivou Teicher e suas colegas – Jacqueline Samson, Ann Polcari, e Cynthia McGreenery – a fazer um estudo comparando o impacto da agressão verbal na infância, tanto na presença quanto na ausência de abuso físico e sexual e exposição à violência familiar.

Abuso verbal vs Abuso físico

Os pesquisadores recrutaram 554 jovens, com idades entre 18 a 22 anos, para responderem um questionário. Cerca de metade eram mulheres; a maioria era branca. Todos eles preencheram questionários sobre a infância e abuso verbal.

Uma pessoa que ilustra muito bem o perfil dos entrevistados é Ângela, uma caloura da faculdade de 18 anos de idade que participou do estudo depois de ver uma propaganda no metrô direcionada a pessoas que tiveram uma infância infeliz. “Acho que esta é a primeira vez que eu penso sobre essas coisas tão a fundo em toda a minha vida”, disse ela, “e com certeza é a primeira vez que eu falo sobre isso”.

Os pesquisadores descobriram que a agressão verbal tem efeitos tão graves quanto os maus tratos físicos ou a violência sexual. Descobriram também que a agressão verbal por si só é um fator de risco particularmente forte para a depressão, a agressividade e transtornos de dissociação.

O trauma pode afetar o cérebro

As descobertas levantaram a possibilidade de que a exposição à agressão verbal pode afetar o desenvolvimento de certas regiões cerebrais ​​em indivíduos susceptíveis. Independentemente do estado de saúde mental, jovens maltratados na infância apresentaram reduções de 6% em duas partes do hipocampo, em média, e de 4% nas regiões chamadas subiculum e presubiculum, em comparação com pessoas que não tinham sofrido abusos verbais.

É aí que este estudo começa a unir pontas soltas observadas em pesquisas anteriores. Os dados anteriores sugeriam que os altos níveis de hormônios do estresse causado pelos maus-tratos infantis poderiam danificar o hipocampo, o que por sua vez poderia afetar a capacidade dessas pessoas de lidar com o estresse mais tarde. Em outras palavras, o estresse no início da vida torna o cérebro mais resistente aos efeitos do estresse mais tarde.

Porém, ainda há esperança. O cérebro é muito “plástico” – é capaz de mudar sua resposta às experiências, especialmente àquelas experiências repetidas e marcadas. Além disso, o cérebro é muito mais plástico durante a primeira infância. A identificação das agressões e a intervenção precoce tem a capacidade de modificar a influência no desenvolvimento das crianças abusadas e negligenciadas em muitos aspectos positivos.

Os elementos de uma intervenção bem sucedida deve ser guiada por princípios fundamentais do desenvolvimento cerebral. O cérebro muda sua forma dependendo do modo que é utilizado. As intervenções terapêuticas que restauram a sensação de segurança e controle são muito importantes para a criança gravemente traumatizada.

“Possíveis consequências incluem o apego inseguro com os outros, sentimentos negativos sobre si mesmo, pior funcionamento social e baixa auto-estima”. O pior é que, de acordo com Teicher, “tais possibilidades não são mutuamente exclusivas”.

A pesquisa de Teicher, até então inédita, mostrou que a exposição ao abuso verbal afeta certas áreas do cérebro. Estas áreas estão associadas a alterações ao QI verbal, bem como aos sintomas de depressão, de dissociação, e de ansiedade.

Palavras duras ocasionais não irão traumatizar uma criança para a vida, mas a contusão verbal frequente pode ser tão ruim quanto pauladas e pedradas, e podem quebrar ossos.

Fonte: PsychologyToday traduzido e adaptado por Psiconlinews

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