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Orgânicos ultraprocessados: e agora?

A colunista Ariela Doctors explica o conceito de orgânicos ultraprocessados. E no final tem receita de pão caseiro

Ariela Doctors* Publicado em 25/08/2021, às 07h00

Pão caseiro (receita no final)
Pão caseiro (receita no final)

Orgânicos ou convencionais, in natura, processados, minimamente processados ou ultraprocessados. Esses são apenas alguns dos conceitos ligados à nossa comida. Os termos ligados à alimentação contemporânea são tantos, que acabam por nos confundir. Realmente não poderia ser de outra forma. Nossos sistemas alimentares são, de fato, complexos. Envolvem milhares de pessoas e espaços desde a produção, transporte, armazenamento, venda e transformação dos alimentos para bilhares de humanos nos mais diversos territórios.

Vamos esclarecer dois desses conceitos para auxiliar suas escolhas na hora das compras.

Você já deve ter percebido o aumento de ofertas de alimentos orgânicos nos mercados. Isso não é mais novidade. A grande inovação, para falar a mesma linguagem das indústrias contemporâneas, são os orgânicos ultraprocessados.

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Pegando carona no que poderíamos entender como um “modismo” alimentar, as grandes indústrias de alimentos reconheceram um novo filão de consumidores. O consumo de orgânicos in natura (frescos) tem crescido exponencialmente nos últimos anos e é claro que essa tendência chegaria na produção de alimentos ultraprocessados.

A questão é: será que por serem orgânicos, tudo bem serem ultraprocessados?

Muitas pessoas recorrem ao consumo de alimentos ultraprocessados por questões de praticidade, mesmo sabendo não ser exatamente o mais saudável. Com a chegada dos ultraprocessados orgânicos, o consumidor vibrou com a possibilidade de juntar praticidade e saudabilidade para suas famílias. Mas, antes de sair comprando comidas orgânicas ultra processadas, recomendo que se pondere certas questões.

A primeira tem a ver com a qualidade desses alimentos. Realmente, os orgânicos têm uma qualidade superior aos alimentos convencionais porque normalmente sua produção implica na não utilização de agrotóxicos nem fertilizantes químicos e, no caso da produção animal, a não utilização de drogas veterinárias. Além disso, nutricionalmente, os orgânicos também tem uma qualidade superior pois são produzidos em solos mais férteis e equilibrados, diferente dos convencionais que

usam fertilizantes sintéticos à base de NPK, ou seja, apenas nitrogênio, fósforo e potássio.

Portanto, mesmo sendo ultraprocessados, esses alimentos de fato mantêm uma toxicidade menor que os ultraprocessados convencionais, relacionada à inexistência dos contaminantes da agricultura e de aditivos químicos sintéticos. Então, por que ponderar o consumo dos orgânicos ultraprocessados?

A questão não está no fato de serem orgânicos, mas sim com o ultra processamento. Cientificamente já está comprovado que quando o alimento passa por processos industriais são formadas substâncias tóxicas e alergênicas. Por exemplo, no processo de desidratação, são liberados ácido glutâmico livre, ureia e amônia no processo de desidratação e esterilização de leites. Quer dizer que um leite desidratado, por mais que seja orgânico, por ter passado por processos industriais, nunca será igual a um leite orgânico in natura. Além disso, a esterilização e homogeneização, o refinamento de alimentos integrais como sal, açúcares e cereais, a liofilização entre outros, são alguns dos processos que os ingredientes passam na indústria que acabam por degradá-los. Isso interfere na qualidade e disponibilidade de nutrientes dos alimentos, que deixam de ser saudáveis e equilibrados.

Logo, consumir alimentos orgânicos ultraprocessados pode nos dar a falsa sensação de saudabilidade.

Para além do bem estar de nossas famílias, preferir alimentos orgânicos in natura fomenta uma rede virtuosa dentro dos sistemas alimentares. Quando você opta por comprar de pequenos produtores, agricultores familiares, produtos frescos provenientes de locais mais próximos, você está diminuindo suas pegadas negativas no meio ambiente. Desta forma, diminuindo distâncias, menos gases poluentes são emitidos no transporte de mercadorias, por exemplo. Comprando do pequeno e artesanal, você estimula a economia local, ao invés de incrementar o lucro de grandes conglomerados multinacionais e ainda ajuda a mitigar resultados negativos do consumo insustentável que estamos enfrentando no planeta.

Você já pensou em fazer pão em casa ao invés de comprar pães industrializados? Ao ler o rótulo das embalagens e descobrir que além dos ingredientes necessários para se fazer um pão são adicionados conservantes e outros componentes impronunciáveis, talvez você encontre 1 hora por semana para produzir o pão nosso de cada dia.

Aqui vai mais uma receita simples para ser processada na sua cozinha, proporcionando momentos de alegria e confraternização em família. Aproveite!

Receita de Pão Caseiro

Ingredientes


  • 500g de farinha de trigo (pode misturar branca e integral ou usar só branca)
  • 35g de fermento fresco

  • 1 xícara de chá de água morna

  • 1 colher de sopa rasa de sal

  • 1 colher de sopa rasa de açúcar demerara

  • 3 colheres de sopa de óleo de girassol ou milho ou canola
  • 
1 ovo

Modo de preparo

  • Aqueça 1 xícara de água até ficar morna (você deve conseguir colocar o dedo e deixar sem queimar)

  • Acrescente o fermento fresco e misture; reserve (deixar ao menos 10 minutos)
  • Numa vasilha grande, coloque a farinha de trigo, quebre o ovo num pote e transfira para a vasilha da farinha

  • Acrescente o sal, o açúcar e o óleo

  • Por último, adicione a água com o fermento

  • Misture bem até obter uma massa homogênea

  • Depois, sove por uns 10 minutos

  • Cubra com um pano limpo e deixe a massa descansar e crescer por 30 minutos
  • Coloque a massa numa forma de pão untada ou modele pequenos pãezinhos e coloque numa travessa

  • Coloque em forno pré-aquecido (180oC) por 30 minutos

  • Ao retirar, deixe sobre uma grade até amornar


Bom apetite!

Utensílios


1 xícara ou medidor


3 colheres de sopa


1 vasilha grande


1 pote pequeno


1 forma de pão ou assadeira

Você pode acessar outras receitas no site Comida e Cultura e conhecer mais do nosso trabalho no @projetocomidaecultura e no canal de youtube Comida e Cultura.

Fontes:

  •  Nutricionismo, Gyourgy Scrinis 

  •  https://diplomatique.org.br/o-sequestro-dos-organicos-pelos-ultra 
processados/ - Elaine de Azevedo e Fernando Ataliba 

  •  https://diplomatique.org.br/a-industria-de-alimentos-ultraprocessa 
dos-e-cringe/?utm_campaign=BOLETIM+NA&utm_content=A+ind %C3%BAstria+de+alimentos+ultraprocessados+%C3%A9+cringe +%281%29&utm_medium=email&utm_source=EmailMarketing&u tm_term=BOLETIM+-+21-08-13+-+NA - Teresa Liporace 


*Ariela Doctors é chef, comunicadora e mãe

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