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O “Sr. Pai” na amamentação. Papai sabe tudo, mesmo?

O pediatra Moises Chencinski destaca a importância do pai ativo para o processo da amamentação, principalmente em tempos de Covid e isolamento social

Dr. Moises Chencinski* Publicado em 31/05/2021, às 11h32

Pai ativo
Pai ativo

Eu estou (quase) quieto no meu canto, sem pensar em (quase) nada em especial, e aí me aparece essa matéria no jornal americano Herald&Review em uma seção chamada Ask Mr. Dad (Pergunte ao Sr. Papai): quanto tempo devo continuar amamentando?

E a pergunta (se não for fake) vem de uma mãe ao Mr. Dad (negritos são meus):

Caro Mr. Dad (Sr. Pai????): Nosso filho acabou de fazer 2 anos e, embora esteja comendo bastante comida "de verdade", ainda o amamento. Meu marido acha um pouco estranho, mas vários amigos e até alguns colegas de trabalho estão chocados. Existe uma idade específica em que devo interromper a amamentação? Estou causando danos ao amamentar uma criança?

Se isso já não fosse preocupante, a resposta de alguém que se identifica como “Sr. Papai” é mais assustadora ainda. Tem algumas partes até razoáveis (o que não desculpa nada), mas vou pinçar alguns trechos (e os negritos meus ainda):

Muitos pediatras sugerem que, a partir dos seis meses, os pais devem introduzir gradualmente a alimentação adequada e, simultaneamente, diminuir a amamentação. No final de um ano, a maioria dos bebês será desmamada.

Durante os primeiros seis meses, a amamentação tem uma série de excelentes "argumentos de venda": Em primeiro lugar, além de ser grátis...

Aqui vai uma pérola:

Não há absolutamente nada de errado em amamentar por mais tempo do que os seis meses recomendados - contanto que você entenda que o tipo de nutrição que está fornecendo é principalmente emocional.

A ideia é que seu filho pare de querer amamentar quando estiver pronto para dar aquele grande passo em direção à independência.

E para fechar com chave de... lata?

Mas deixar seu filho comandar o show da amamentação pode ser arriscado, pois sua definição de quando é uma boa hora para parar de amamentar (ou usar fraldas ou dormir em sua cama) pode ser diferente da dele.

Veja também: 

Vamos começar com um mantra:

  • PAI NÃO AJUDA.
  • PAI PARTICIPA.
  • PAI COMPARTILHA.
  • PAI É PARCEIRO.

Continuando com algumas informações importantes.

  • Não. Pai que leva criança na escola não é legal. Ele é pai.
  • Não. Pai que dá banho nos filhos não ajuda. Ele é pai.
  • Não. Pai que faz compras no caminho de casa não é esforçado. Ele é pai.
  • Não. Pai que vai à reunião da escola dos filhos não é herói. Ele é pai.
  • Não. Pai que brinca com os filhos não merece aplausos. Ele é pai.

Acho que deu pra captar a ideia, não é?

A resposta do “Sr. Papai” (“Mr. Dad afffeeee) é de um pai que, se tiver filhos, não tem a informação que essa ou qualquer outra mãe estão buscando. Esse conceito é antigo, muito comum no século passado, que tinha como um de seus representantes máximos uma série americana chamada Papai Sabe Tudo (1954 a 1960), que chegou ao Brasil na década de 1960, trazendo o modelo americano de uma família de classe média onde o pai “sabia o que era melhor para cada membro da família e resolvia todos os seus problemas”, como se fosse o único que raciocinasse, depois de um dia cheio no trabalho.

O pai (ou companheiro, ou companheira) é parte fundamental e mais próxima na rede de apoio, importantíssima para que o processo da amamentação possa ocorrer. Em tempos de COVID e de “distanciamento social físico presencial”, que não permitem o apoio mais marcante de avós, tias, outras mulheres da família, amigas (a “mulheridade”) e até de alguns profissionais, a presença de um parceiro é muito bem-vinda.

A informação continua sendo fundamental. Se já é assim para as mães, para quem compartilha esse tempo com a dupla mãe-bebê representa uma base de apoio indispensável.

Mas, na dúvida, pró-mãe. Sempre pró-mãe e pró-bebê. Especialmente na amamentação. O que se sugere ao pai, nesse momento? Vem comigo e me diz se é muito complicado:

  • Presença.
  • Escuta ativa (de verdade).
  • Empatia (colocar-se no lugar).
  • Sem julgamento (Não. Papai não sabe tudo. Mas, pode aprender muito).
  • Apoio.

Por uma nova “Paternidade e Paternagem” em novos tempos.

Paternagem ativa, participativa, sem preconceitos, ética e, talvez, até com ajuda.

Por que não?

Mas, na base, PAI sendo PAI, em sua mais pura versão possível.

*Dr. Moises Chencinski é pediatra e homeopata.

Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Autor dos livros HOMEOPATIA mais simples que parece, GERAR E NASCER um canto de amor e aconchego, É MAMÍFERO QUE FALA, NÉ? e Dicionário Amamentês-Português
Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Criador do Movimento Eu Apoio leite Materno.

Assista ao Papo de Mãe sobre o pai na gravidez e no nascimento. 

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