Papo de Mãe

O que você precisa saber sobre a Síndrome Alcoólica Fetal

Não se conhece uma fase da gestação em que a ingestão de álcool seja segura.

Roberta Manreza Publicado em 04/09/2020, às 00h00 - Atualizado às 14h16

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4 de setembro de 2020


Por Dra. Conceição A. M. Segre*

Mulheres que consomem álcool e têm vida sexual ativa, não utilizando métodos anticoncepcionais, podem expor o bebê à ação lesiva do álcool, antes mesmo de saberem que estão grávidas. O álcool acomete o feto em praticamente todos os seus órgãos e essas lesões podem ocorrer antes da 8a. semana de gravidez, época em que a metade das mulheres ainda não sabe que está grávida.

O consumo de álcool por uma gestante é assinalado em 7,3% das mulheres grávidas nos Estados Unidos. No Brasil não se dispõe de dados do país, mas pesquisas pontuais em maternidades referem essa ingestão em até 1/3 das gestantes.

Não se conhece uma fase da gestação em que a ingestão de álcool seja segura. Mas, vale lembrar que o cérebro do feto se desenvolve durante toda a gestação e pode ser afetado em qualquer momento. Além disso, a ingestão de álcool por mulheres que desejam engravidar também pode atingir o feto.

O conjunto dessas desordens é conhecido como Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que não tem cura, persistindo durante toda a vida. O comprometimento cerebral do feto é de longe o mais grave podendo se manifestar de várias formas, como problemas de comportamento e atraso escolar, entre outras dificuldades. Na adolescência há aumento da delinquência e drogadição.

De 1 a 3/1000 recém-nascidos vivos podem ser acometidos pela SAF completa, segundo estimativas internacionais. Com base nesses dados, avalia-se que anualmente 119.000 crianças no mundo venham a nascer com SAF. Esses dados, porém, podem estar subestimados! Além disso admite-se que para cada caso de SAF completa há pelo menos 10 casos da síndrome parcial, portanto pode-se admitir estarmos tratando de uma verdadeira epidemia, porém silenciosa!

Nem todos os bebês, todavia, apresentam a totalidade dos sintomas da SAF, mas podem ter apenas dificuldades na aprendizagem e alterações no comportamento, que são reconhecidas tardiamente, recebendo várias denominações como: SAF parcial ou espectro de alterações relacionadas ao álcool (na sigla em inglês conhecidas como FASD).

Crianças acometidas podem apresentar:

  • Alterações faciais (como borda vermelha do lábio superior muito fina, ausência do filtro nasal, fendas palpebrais pequenas);
  • Tamanho pequeno da cabeça (microcefalia);
  • Comprometimento da estatura;
  • Peso baixo para a idade;
  • Coordenação motora comprometida;
  • Hiperatividade;
  • Memória comprometida;
  • Dificuldades escolares (principalmente para matemática);
  • Deficiência de linguagem;
  • Quociente Intelectual (QI) baixo;
  • Deficiência na capacidade de julgamento e no relacionamento com outras pessoas;
  • Problemas auditivos;
  • Problemas visuais;
  • Problemas em outros órgãos (coração, rins, ossos).

A exposição ao álcool durante a gestação, todavia, não resulta necessariamente em SAF. O principal problema é que não se conhecem níveis seguros de consumo de álcool durante a gravidez, abaixo dos quais o feto não será comprometido. Portanto, a prevenção é a única maneira que se tem para enfrentar a SAF.

Não há até o momento nenhum tratamento curativo, apenas de suporte e meramente sintomático. Em função da perenidade dessas lesões, as intervenções sintomáticas que se fizerem necessárias devem ser precoces e permanentes, ou seja, durante toda a vida da pessoa atingida. Além disso, ao mesmo tempo que a criança acometida deveria obter apoio e atenção de suporte, sua mãe deveria ser encaminhada a um serviço de recuperação para drogaditos e seus irmãos deveriam ser examinados quanto à possibilidade de ocorrência de transtornos da exposição pré-natal ao álcool.

Conclusão: SE ENGRAVIDAR NÃO BEBA E SE BEBER NÃO ENGRAVIDE!

*Dra. Conceição A. M. Segre é livre docente em Pediatria Neonatal pela Escola Paulista de Medicina, conselheira científica do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool e coordenadora do Grupo #álcool e gravidez da Sociedade de Pediatria de São Paulo e da campanha #gravidezsemalcool da Sociedade Brasileira de Pediatria. Também é membro da Academia Brasileira de Pediatria e da Academia de Medicina de São Paulo.



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