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O potencial transformador da educação política

A importância da participação política dos jovens, de tirar o título de eleitor. Prazo para adolescentes entre 16 e 18 anos termina dia 4 de maio

Bezinha Soares* Publicado em 21/04/2022, às 06h00

O voto é um direito e um dever
O voto é um direito e um dever

Desde 2008 estou envolvida com projetos de educação política para a população em geral, sendo que na maioria das vezes o foco tem sido os jovens do Ensino Médio da rede pública da Educação, sim, esse pessoal que também está no foco da movimentação nas redes sociais nos últimos dias, num apelo importante e necessário para que tomem as rédeas de seu protagonismo, emitam seu título de eleitor e façam a diferença nas eleições de outubro.

Nesses mais de 10 anos de atuação, nossas aulas de Iniciação Política sempre foram presenciais até que, em 2020, a Pandemia pegou a todos de surpresa e tivemos que nos adaptar. Claro que tudo tem seu lado positivo; o universo online nos aproximou de alunos do Amapá, Rondônia, entre tantos outros lugares que uma equipe de professores de educação política de São Paulo nunca tinha alcançado. Ocorre porém que nem tudo são flores. Da mesma forma que o entusiasmo com ações online chegou, ela acabou se tornando cansativa e ao longo do tempo a adesão foi caindo, até tornar o projeto inviável.

Mas para que essa introdução? Para dizer do quanto está nas nossas mãos, adultos responsáveis pela formação dos jovens, levar o tema da Educação Política, Cidadã e Democrática para a realidade dessa galerinha. Se o jovem não está exposto, não tem acesso, não debate o tema na escola, vai fazer isso onde? É como aprender a fazer conta: ninguém aprende sozinho, só com muito exercício e acesso a técnicas que a gente aprende os algoritmos da matemática. Por que com a participação política e o exercício cidadão seria diferente? A gente nasce sabendo? Não! A gente aprende! E o ambiente escolar é o ambiente por excelência voltado pra esse fim. Ah, mas isso é coisa de comunista! Será?

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Vejamos, então, qual tem sido um tema recorrente nas rodas de conversa, nos debates institucionais e no cenário da política nacional? O combate à corrupção, não é mesmo? Ele é tema que incomoda os brasileiros a tal ponto de muitos terem caído no conto do vigário de falsos bastiões e hoje estamos nesse fosso que parece não ter fundo, e tudo em nome do combate à corrupção, bom, mas isso é assunto pra outra hora.

Voltando ao tema, educação política e participação do jovem… esses meus queridos amigos e grandes cientistas políticos, parceiros dessa empreitada da educação política, aqueles que comentei ai pra cima, mais especificamente o Humberto Dantas, a Joyce Luz e o Bruno Souza, dentre suas tantas pesquisas e estudos, acabaram conhecendo uma experiência muito bacana, envolvendo participação política e combate à corrupção.

Trata-se de uma iniciativa muito interessante e desafiadora da Controladoria Geral do Estado de Goiás (um órgão voltado ao combate à corrupção que tem por principio evitar danos à realidade pública, seja ao erário, seja execução da política publica garantidora de direitos, seja ao cidadão como destinatário dessa política) com a Secretaria Estadual de Educação: o projeto Estudantes de Atitude.

Segue o fio para conhecer a experiência e entender onde ela se conecta com o presente artigo: “uma escola tem um problema na cobertura de sua quadra, que está em más condições e precisa de um reparo. Se ninguém atentar para isso o dano pode se tornar maior, o telhado pode desabar, isso pode resultar em vítimas e, para além da vida, pode tornar o problema ainda mais caro. Se um cidadão comum observa o desafio e avisa ao poder público de forma mais célere, economizamos recursos e zelamos de forma mais concreta por aquilo que é nosso. Mas você vai pensar: isso é problema da direção da escola, e dos servidores da manutenção. Será mesmo? E se pensarmos numa forma de envolvermos os estudantes numa auditoria cívica? Entendendo por “auditoria”, a partir de uma definição bastante simples encontrada num blog da escola de pós-graduação UPIS, do Distrito federal, algo como “um processo de verificação e análise de atividades desenvolvidas (…) cujo objetivo é examinar se elas estão de acordo com o que foi planejado ou estabelecido”. Percebe? Será que o estudante não pode, orientado por professores e servidores da escola, se envolver numa espécie de auditoria? No desenvolvimento de uma atividade pedagógica, de formação política, que diga, a partir de um relatório padrão, se a escola está seguindo estruturalmente aquilo que dela é esperado? O termo “cívica” aqui também nos diz muita coisa, pois inspira a idéia de que se trata de um exercício de cidadania.” [1]

E aí, eu digo, que até pra combater a corrupção, a gente precisa aprender. Com a participação política é a mesma coisa. A gente precisa falar, debater, ler, conhecer e saber os caminhos da democracia; e precisa saber que aos 16 anos precisa tirar o titulo, e que mesmo o voto sendo facultativo nessa fase da vida, diante da realidade caótica em que estamos, com nossa democracia na UTI, tirar o titulo e votar passa a ser um compromisso moral com a mudança do cenário atual, porque o jovem não é o futuro do Brasil; ele é o presente! E se não mudarmos o presente, que futuro teremos? E aí, galera, nunca te pedi nada, bora tirar o título?

[1] Participação política : casos que nos inspiram e ações que nos movimentam / Joyce Luz, Bruno Souza da Silva e Humberto Dantas –– 1. ed. –– Rio de Janeiro : Konrad Adenauer Stiftung, 2021.

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Bezinha Soares

*Bezinha Soares, 51, é advogada e professora, trabalhou nas secretarias estaduais de Desenvolvimento Social e de Justiça e Cidadania nas gestões de José Serra e Geraldo Alckmin, e na secretaria municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho na gestão Bruno Covas.

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