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O afeto de se comunicar pela música e pelo olhar: um papo com Solange Lara, mãe de Stella Yeshua e MC Lamar

Solange Lara é mãe de três filhos, avó de três netos e cuidadora de idosos. Ao Papo de Mãe, ela fala sobre os múltiplos significados do que é família

Sabrina Legramandi* Publicado em 08/10/2021, às 14h45 - Atualizado às 15h16

Solange Lara, os três filhos e os três netos - Arquivo Pessoal
Solange Lara, os três filhos e os três netos - Arquivo Pessoal

Com brincos compridos, cabelos curtos e um poncho bege que a cobre até o pescoço, Solange Lara expressa o orgulho de ser ela mesma com um sorriso. Tão grande quanto o sorriso, a afetividade de quem é cuidado por ela faz de Solange “uma onça, uma leoa”, nas suas próprias palavras.

Nascida no Ipiranga, bairro que mais convive com a história na capital de São Paulo, Solange veio do seio da família Araújo. O pai é Davi Araújo e a mãe, dona Noêmia Anastácio de Araújo. Noêmia Anastácio leva a força da família no nome e nos seus 87 anos. Com a sogra Denozir, de 83 anos, Noêmia ocupa a categoria de matriarca da família e de espelho de Solange.

Hoje, Solange Lara mora no Campo Limpo, bairro na Zona Sul de São Paulo, e o amor dela e do esposo Eugênio gerou três integrantes na família: Mônica, Stella e Yuri. Logo a família cresceu e chegaram os netos Gustavo, Thiago e Alice, além das “senhorinhas da Solange”. Cuidadora de idosos há mais de 20 anos, foi sua primeira paciente, a dona Gilda, que a mostrou o poder de sua profissão.

Solange e Eugênio
Solange e o marido – Foto: Arquivo Pessoal

Eu vi que era isso que eu queria para a minha vida, porque eu gosto de me doar ao próximo.” (S. L.)

Sugestão: Programa do Papo de Mãe sobre quando os filhos passam a cuidar dos pais

Infelizmente, dona Gilda se foi, mas deixou, para Solange, o amor por cuidar e a luta para que o cuidado seja parte do cotidiano no mundo. Foi durante uma missa de sétimo dia de outra paciente na famosa Paróquia Nossa Senhora do Brasil, localizada no aristocrático bairro do Jardim América, em São Paulo, que Solange percebeu a carência de cuidado de que seus pacientes padecem.

“Era sempre eu que ligava para o filho dela e, nesse dia, ele fez um texto enorme”, lembra. Chorando ao ouvir as palavras do discurso, Solange se levantou e, sozinha, começou a aplaudir. “Eu parei e disse ‘puxa vida, o quanto ela gostaria de ter ouvido isso do senhor’”, conta.

Aquela minha paciente não falava, mas ouvia muito bem e se comunicava comigo pelo olhar.” (S. L.)

Atualmente, Solange cuida de dona Adélia e a tem como parte de sua família. A cuidadora já foi convidada para tomar conta da filha de Patrícia Abravanel, mas não teve coragem de encarregar os cuidados de Adélia a outra pessoa. “Eu sou a família dela e ela confia em mim porque eu já cuidei da mãe dela também”, menciona.

Solange e dona Adélia
Solange e dona Adélia – Foto: Arquivo Pessoal

Cuidar tanto trouxe a Solange um medo de não ser cuidada. Para ela, nada é mais importante do que a família. Ver suas pacientes a faz ter medo do abandono no futuro. "Eu choro porque eu não sei o meu dia de amanhã, mas eu só sei que eu não quero isso para mim. Tenho medo de ser abandonada porque sou muito família", conta.

A união da família, porém, faz o medo de Solange ser irreal. O afeto foi costurado com as linhas da música e, hoje, dois de seus filhos estão em ascensão nesse universo: Yuri, o MC Lamar, e Stella, a rapper Stella Yeshua.

A música que toca a família

Stella Yeshua diz que já era rapper no ventre de sua mãe e hoje exibe o som e o visual autêntico para quase 95 mil seguidores no Instagram. Influenciadora digital e colunista da VOGUE Brasil, deu o pontapé inicial na carreira ao deixar de ser vendedora em uma loja de calçados.

Eu tinha medo de ela deixar o emprego, mas, quando ela pôs o pé na rua, as coisas foram acontecendo. De repente, veio esse boom.” (S. L.)

Querer ir para o mundo da música, porém, não foi uma vontade que assustou Solange. A maior surpresa foi por Stella não seguir no samba, ritmo que toca a família, e sim querer seguir o caminho de Mano Brown, o vizinho do Capão Redondo. "Ela sempre perdia as batalhas de rap com os primos e a vontade de ganhar foi fortalecendo a música dela. Hoje ela está aí, querendo ganhar o mundo", diz a mãe, orgulhosa.

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A música, para Solange, está longe de ser desvalorizada no Brasil: “qualquer ‘lalaia’ está explodindo”. O segredo é unir os ritmos. Segundo ela, o que toma o gosto do povo é a união do rap, do samba e do sertanejo. “A música é o que toca o nosso coração e, de repente, essa música que toca o seu coração pode explodir”, diz.

Ver a família unida e crescendo é o que mais toca o coração de Solange. No quadro de fotografias, está o afeto que a move todos os dias: sua mãe, sua sogra, seu marido, seus três filhos, seus três netos e as “senhorinhas da Solange”.

*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe


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