Papo de Mãe

Mimar as crianças faz bem para a saúde

Roberta Manreza Publicado em 17/10/2017, às 00h00 - Atualizado às 11h08

Imagem Mimar as crianças faz bem para a saúde
17 de outubro de 2017


Por Dra. Priscila Zanotti Stagliorio*, Pediatra e Médica de Emergência Infantil

Saber dosar os agrados é o segredo para melhorar a infância e eternizar os momentos

Todas as mães já ouviram a famosa frase “não pode mimar as crianças que depois você não vai conseguir controlá-las”. Será?! Eu como mãe e pediatra posso afirmar que esta colocação é um tanto quanto exagerada e errada, também.

Como seres humanos, todos nós, principalmente na infância, precisamos de carinho, demonstrações de afeto, confiança e muitos estímulos para sermos pessoas melhores. Isso é um fato.

Então, porque não podemos mimar nossos filhos (biológicos ou adotivos) sendo que são um pedaço de nós e fruto do amor entre duas pessoas?

Eu, particularmente, defendo a tese que saber mimar faz toda a diferença, especialmente, na primeira infância e reflete positivamente para a vida adulta.

Hoje os momentos com as crianças são tão disputados com trabalho, estudos e compromissos “adultos” que sobra pouco ou quase nada de tempo para externarmos o amor e a importância que eles têm em nossas vidas. Sendo assim, não temos qualidade de vida emocional com eles, pois a culpa é frequente e para minimizá-la, muitos pais acabam liberando tudo para seus filhos com o objetivo de tirar o peso das costas.

No texto de hoje, vou elencar alguns pontos que podemos praticar para mimar as crianças sem exagero e tornar o dia delas mais especiais conosco. Vejam as minhas dicas:

Separe um horário na sua agenda

– Se você não consegue estar presente fisicamente todos os dias ou na quantidade de horas que gostaria com as crianças, tente separar um dia da semana – pode ser no final de semana – para fazer atividades legais com eles. Vale um passeio, assistir um filme, jogar bola, fazer a unha ou servir como modelo para a criança pintar, pentear os cabelos e por ai vai. A imaginação e a brincadeira podem ser ilimitadas e ambos vão se divertir muito!

Saiba ouvir

– Saber ouvir a criança é um dos fatores mais importantes. Muitas vezes não levamos em conta ou damos a devida importância para o que eles nos dizem por achar que “são coisas de crianças”, mas preste a atenção que no diálogo e nas palavras ditas por eles pode conter mensagens que não percebemos como, por exemplo, demonstração de sentimentos (tristes ou alegres), necessidades (físicas e emocionais), desejos de vivenciar algo novo, como também, um pedido de ajuda para alguma situação que ela não entende ou tem medo.

Elogiar não faz mal

– Saber reconhecer quando a criança se esforça e mesmo quando ela se “sai” bem em suas atividades é necessário para ajudar na formação de sua autoconfiança. Assim como os adultos que gostam de ser reconhecidos no trabalho e nos afazeres domésticos, por exemplo, a criança precisa sentir-se importante para seus pais e familiares. Agindo assim, as chances de termos crianças ansiosas, depressivas e até compulsivas são menores. Mas vale lembrar que não adianta elogiar a cada minuto ou atitude que a criança tiver, é importante saber identificar as melhores e ou que são símbolo de superação para ela. Desta forma não criamos superegos ou crianças que acreditam que o mundo deve servi-las.

Ame-as de acordo com a sua faixa etária

– Não é porque a criança já sabe formar frases aos dois anos que você deve agir como se ela tivesse cinco anos. Calma, cada criança tem uma evolução diferente, algumas mais rápido e outras menos. Lembre-se, cada faixa etária precisa de atenção especial. Não atropele ou prolongue nenhuma delas. Respeite as “infantilidades” de cada idade e permita-se interagir de igual comportamento quando necessário. Um exemplo bom que eu sempre cito é quando uma criança lhe oferecer um objeto fingindo ser um telefone, não a ignore, responda como se estivesse falando com alguém do outro lado da linha e você vai ver os olhinhos dela brilhando! Isso fará bem para todos e ao mesmo tempo cria laços de afetividade e confiança.

Presentes são bem-vindos!

– Na cultura brasileira o presente faz parte do pacote de demonstração de carinho, amor e homenagem para quem recebe. Para a criança, o presente significa muito mais, como a certeza que o papai Noel existe, que a fada do dente não se esqueceu dela quando deixou o dentinho embaixo do travesseiro ou mesmo que o coelhinho da páscoa “botou” àquele ovo de chocolate que ela desejou. O mais importante não é o presente e sim a presença que podemos oferecer para nossos filhos. Presentear faz parte do processo da infância, mas exagerar não é legal e isso pode variar de família para família, classe social e até costumes culturais. Agradar os nossos pequenos faz bem para nós também, pois afinal de contas, seria uma vida chata se não pudermos comprar aquelas besteirinhas que eles amam por cinco minutos e depois deixam de lado, não é!

Viva o presente e sinta as emoções

– A infância passa tão rápido! Hoje eles têm um mês e amanhã já estão com 10, 15, 20 anos e parece que o tempo voou. Aproveite cada momento, registre com fotos, vídeos e até cadernos autobiográficos. A memória é falha e esses recursos serão valiosos no futuro. Mas o mais importante, independentemente de qualquer outro fator, é viver verdadeiramente os momentos e sentir as emoções que eles nos proporcionam. Assim não teremos remorso ou vontade de voltar no tempo para reviver aquilo que não pudemos por causa de motivos fúteis ou desnecessários que poderiam ter esperado. Lembre-se: as crianças são movidas por emoção, amor e afeto. Os bens materiais são necessários para garantir conforto, segurança e comodidade, mas não podem ser referência única de uma vida feliz e plena, pois podem acabar a qualquer momento. O hoje só acontece uma vez! Não podemos voltar no ontem e também viver o amanhã sem construir o hoje. Ame, ria, chore, grite, cante, corra, abrace, durma de conchinha ou agarradinho com seus filhos, diga que são importantes e que tem orgulho de tê-los em suas vidas, assim como foram desejados e pedidos para chegarem em seus lares. O amor pode ser externado de muitas maneiras, encontre a sua e viva a melhor que se enquadra ao seu perfil e de sua família! Sejam felizes ao seu modo!

Não se culpe tanto

– Diferente dos nossos pais e avós, as novas gerações de filhos não podem mais viver períodos prolongados em seus lares, pois muitos de nós (assim como eu) precisam trabalhar fora o dia todo e, por conta disto, as crianças ficam período integral nas escolas, com babás ou cuidadoras de nossa confiança. Muitos pais, por terem essa jornada de trabalho e ausência na vida de seus filhos sentem-se culpados e sofrem. Calma, não se sinta assim e muito menos tente compensar sua falta com bens materiais ou liberdade demais. Saiba dosar e entenda que o custo de vida, assim como a vida dos pais de hoje são muito diferentes de 30, 40 anos atrás. Portanto, aproveite os momentos possíveis e os viva plenamente. Jogue a culpa para quando exagerar no brigadeiro ou na pizza de final de semana!

O poder de amor do pediatra

– Além de avaliações físicas e de saúde, nós pediatras também exercemos o poder do amor em cada consulta que realizamos, pois quando uma criança chega no consultório, seja no ambulatório ou pronto socorro infantil, temos de ter a sensibilidade de saber ouvir, respeitar, elogiá-los pela coragem de tomar medicações (por exemplo), assim como viver a emoção do abraço de agradecimento, do olhar triste e aflito dos pais ao pedirem ajuda e na alegria da equipe ao saber que a criança se recuperou dentro do esperado e pode ter alta. São momentos e emoções, além de mimos que nos tornam especiais na vida de quem amamos. Mime seu filho com moderação e terás ótimos resultados no presente e no futuro!

*Dra. Priscila Zanotti Stagliorio

É médica pediatra há mais de dez anos, atua na zona norte de São Paulo, em consultório particular, no Pronto Socorro do Hospital São Camilo – unidade Santana, e na rede Dr. Consulta – unidades Tucuruvi e Santana.

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