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Leite Materno em números: as contradições

O pediatra Moises Chencinski fala sobre a promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno

Dr. MOISES CHENCINSKI* Publicado em 14/06/2022, às 08h53

O quanto podemos e devemos agir para proteger, apoiar e promover a amamentação.
O quanto podemos e devemos agir para proteger, apoiar e promover a amamentação.

Talvez essas informações mais concretas a respeito da amamentação e do leite materno tragam uma realidade que muitos não conhecem ou não dão a devida atenção.

Quem sabe assim, com os números no papel, fique mais claro o quanto podemos e devemos agir para proteger, apoiar e promover a amamentação.

Ainda há muito a se fazer (e estamos tentando há tempos e vamos continuar), sem perdermos o que já temos (e temos perdido muito).

Assista ao Papo de Mãe sobre amamentação

Doação de leite

O Brasil tem a maior rede de bancos de leite humano do mundo e “exporta” tecnologia para mais de 20 países. Isso quer dizer que está tudo bem por aqui?

  • 233 - Número de Bancos de leite humano (BLH).
  • 213 - Número de Postos de coleta de leite humano.
  • 188.722 - Número de doadoras de LH (2.021).
  • 245.318,8 - Número de litros de LH doados (2.021).

Isso representou apenas 55% da necessidade de leite humano para os prematuros nascidos nesse ano. Temos muito, mas precisamos de muito mais do que temos.

Já doou seu leite humano excedente hoje?

Rede-BLH

Hospitais Amigos da Criança

Lançada pela UNICEF e OMS em 1991, a IHAC (Iniciativa Hospital Amigo da Criança) está no Brasil desde 1992. São normas importantes para que a amamentação seja protegida, preservada e estimulada nas maternidades. Seria bom demais se muito mais crianças tivessem a oportunidade de nascer em um ambiente como esse.

Para ser um Hospital Amigo da Criança, há necessidade de se seguir uma série de critérios estabelecidos pela Portaria Nº 1153 (22/05/2014). O estabelecimento de saúde que cumprir e atingir os objetivos recebe a placa da “Iniciativa Hospital Amigo da Criança”, válida por 3 anos, com autoavaliação anual e reavaliação presencial trienal.

Entre 1992 e 2010 foram credenciados 353 hospitais nessa iniciativa, entre as cerca de 5.000 “casas para nascer”, e, atualmente, o Brasil conta com 307 HAC.

Aleitamento Materno até 2 anos ou mais, exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês

Seguindo com números.

Se essas poucas recomendações estivessem bem estruturadas mundialmente, os resultados preveniriam 20 mil mortes de mães, 832 mil mortes de crianças até 5 anos de idade e trariam uma economia de 302 bilhões de dólares. Tudo isso por ano.

Pesquisas e mais pesquisas esclarecem as ações do leite materno protegendo e promovendo a saúde de mães e seus bebês e, a cada dia, outras evidências aparecem, não para criticar ou julgar as mães que não amamentam, mas para colocar uma luz sobre a importância de favorecer todas as mães que querem e não conseguem amamentar, quer seja por falta de orientação, ou de rede de apoio, ou de políticas públicas ou por qualquer outra razão (são muitas).

A OMS estabeleceu metas de aleitamento para 2.025 e, sem que elas fossem atingidas, aumentaram essas programações para 2.030. Ou seja.

Para 2025 - 50% das crianças abaixo de 6 meses em Aleitamento Materno Exclusivo.

Para 2030 - 70% das crianças abaixo de 6 meses em Aleitamento Materno Exclusivo.

O ENANI-2.019 (realizado antes da pandemia) mostrou que nossa taxa chegou a 45,8% de aleitamento materno exclusivo (AME) em crianças abaixo de 6 meses.

Veja também: 

E falando no ENANI

Essa foi a nossa última, e ótima, pesquisa a respeito de aleitamento materno no Brasil. Cada resultado poderia ser motivo de um post enorme aqui. Mas, dessa vez, vou só trazer alguns números da pesquisa.

  • 62,4% das crianças foram amamentadas ainda na primeira hora de vida.
  • 45,8% das crianças menores de 6 meses em AME.
  • 3 meses – 90 dias - duração mediana do AME (em 2006 era de 51 dias).
  • 15,9 meses - duração mediana do aleitamento materno (em 2.006 era de 11 meses e 10 dias)
  • 21,1% das crianças estavam em aleitamento materno cruzado entre menores de dois anos (34,8% na Região Norte), que é contraindicado pelo Ministério da Saúde.
  • 52,1% de uso de mamadeiras ou chuquinhas em crianças com menos de dois anos.
  • 43,9% de uso de chupeta entre crianças com menos de dois anos.
  • 4,8% das mães de crianças com menos de dois anos de idade doaram leite.

E fecho o texto com essas importantes conclusões dessa pesquisa:

Quase a totalidade das crianças brasileiras foi amamentada alguma vez e metade delas mamou por pelo menos 15,9 meses. Contudo, as prevalências de AME e de aleitamento materno continuado no primeiro ano de vida, embora expressivas, ainda estão aquém do preconizado pela OMS, e uma grande proporção das crianças usava chupeta ou recebia alimentos por mamadeiras, o que pode prejudicar a continuidade do aleitamento materno. A prática do aleitamento materno cruzado, apesar de ser contraindicada pelo Ministério da Saúde, apresentou frequência relativamente elevada, e a doação de leite humano para BLH foi baixa no Brasil. Evidencia-se, assim, a necessidade do fortalecimento de ações, políticas e programas de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno.”

1 a 7 de agosto de 2.022 – 31ª Semana Mundial de Aleitamento Materno.

FORTALECER A AMAMENTAÇÃO. EDUCANDO E APOIANDO.

*Dr.  Moises Chencinski , pediatra e homeopata.

Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Papo de Mãe. 
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