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Falta de atenção na escola pode indicar problema auditivo

Nem toda desatenção na escola é emocional, pode ser um problema auditivo muitas vezes imperceptível

Dra. Tanit Ganz Sanchez* Publicado em 23/02/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h53

Cuidado redobrado e atenção aos  ouvidos das nossas crianças é essencial - Imagem do site da Dra. Tanit Ganz Sanchez
Cuidado redobrado e atenção aos  ouvidos das nossas crianças é essencial - Imagem do site da Dra. Tanit Ganz Sanchez

Receber informações dos professores do tipo “seu filho se distrai muito na sala de aula” sempre teve o poder de deixar os pais aflitos. Muito antes da pandemia e da experiência inédita de estudar à distância por tempo prolongado.

Agora, com a volta oficial às aulas presenciais, o assunto volta a ter importância.

Mães, pais e professores precisam ficar muito atentos aos sinais que as crianças emitem.

A atitude típica é investigar transtorno do déficit de atenção, com ou sem hiperatividade ou rotular o quadro de emocional. Claro que ambos os diagnósticos são pertinentes, sim!

Meu ponto é que, como otorrinolaringologista, já vivenciei inúmeras situações em que as mães e os filhos fazem uma verdadeira via sacra atrás de profissionais de saúde e exames que nunca comprovam o que está acontecendo. E você sabe… a aflição vai só aumentando.

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Sabendo que o bom funcionamento do ouvido é fundamental para a criança se conectar com a presença e o entendimento dos sons de diferentes ambientes, fica mais fácil entender porque o desempenho nas atividades do dia-a-dia pode ficar comprometido quando existe algum problema no ouvido, principalmente daqueles que não aparecem nos exames.

Sempre me deu uma pena enorme de mães que chegavam ao consultório contando uma jornada de busca e o problema estava no ouvido. Eu sentia pena porque, empaticamente, me colocava no lugar delas e pensava como essa via sacra e as aflições poderiam ter sido evitadas se todo mundo soubesse que um problema do ouvido pode ser o responsável pela falta de atenção de crianças e adolescentes.

Agora vamos empoderar as mães de crianças desatentas na escola explicando meu objeto de paixão profissional: as sutilezas dos ouvidos. Esses pequenos órgãos dão respostas sutis e precoces quando algo não está bem. Seus sintomas não matam – e por isso costumam ser menosprezados-, mas comprometem a qualidade de vida. É algo do tipo “só quem tem sabe como é”.

Crianças com Tontura

Tontura é uma das 10 queixas mais comuns em pronto-socorro. Apesar de ser mais comum em adultos, a tontura pode ocorrer em crianças de um jeito diferente da típica labirintite, termo que se tornou popular. Na verdade, a tontura na infância fica mais disfarçada porque a criança que tem problemas no labirinto apresenta medo do escuro ou de altura, dor de barriga frequente sem causa aparente, recusa de brincadeiras que precisam do equilíbrio, como bicicleta, pular corda ou elástico, amarelinha, parque de diversões etc. Algumas também fazem xixi na cama porque receiam levantar para ir ao banheiro no escuro da noite. A criança com tontura pode ter falta de atenção na escola porque faz esforço para buscar e se manter numa posição mais estável para amenizar os sintomas.

Crianças com Zumbido

Também conhecido como “barulho no ouvido”, o zumbido se parece com um som de chiado ou apito e fica mais perceptível nos momentos de silêncio. Por isso, quem tem zumbido costuma perder o sono à noite e a concentração durante o dia, ficando mais ansioso por não conseguir estudar e fazer o que precisa.

O zumbido costuma representar uma resposta do ouvido a alguma agressão sofrida na parte interna do ouvido. Na idade escolar, o zumbido costuma ser causado pela exposição dos ouvidos das crianças a sons altos cada vez mais cedo.

Há muito anos, o fone de ouvido usado de modo abusivo vem causando zumbido em jovens. Com a pandemia, o uso dos fones virou rotina, tanto para a escola como para ouvir músicas e jogos eletrônicos.

A presença do zumbido precisa ser perguntada à criança, pois ele não aparece em nenhum exame e fica sem diagnóstico. Crianças que não atendem aos chamados dos pais ou professores, ou escutam TV mais alto podem ter zumbido no ouvido e até algum grau de perda auditiva.

Crianças com hipersensibilidade auditiva

Todo mundo tem o seu limite para conseguir tolerar sons mais altos ou repetitivos. A hipersensibilidade auditiva é “tolerância zero” aos sons comuns do dia a dia, como televisão, músicas, conversas, trânsito, eletrodomésticos, mastigação ou respiração dos outros, talheres batendo no prato, restaurantes ou pizzarias etc. Diferente do que muitas pessoas pensam, ter hipersensibilidade não significa “escutar bem demais”, mas sim, que a criança se incomoda com sons que a maioria não se incomoda. Elas frequentemente tapam os ouvidos com as mãos e pedem para ir embora.

Por causa da vida barulhenta, cada vez mais ouvimos frases do tipo “parece que o botão de volume do mundo está no máximo”. Os filhos se frustram porque se sentem incomodados, mas os familiares acham que é frescura e que eles parecem antissociais. A falta de atenção na escola acontece porque a criança tenta se esquivar dos pequenos sons que incomodam, como alunos mascando chiclete ou fungando o nariz, ou ainda, o salto da professora andando na sala. A criança faz esforço para desfocar dos sons.

Sabendo que essas causas de falta de atenção na escola refletem um submundo desconhecido, deixo meu melhor conselho para as mães, não só como médica, mas também como mãe: prestem atenção no dia a dia das crianças desatentas para identificar pistas que sugerem que os ouvidos dos filhos precisam de ajuda.

Vamos às dicas para reconhecer sinais que indicam problemas auditivos nas crianças que são desatentas na escola

  • A criança não reage a barulhos fortes;
  • Não atende quando é chamado pelo nome;
  • Pede para aumentar o som da TV, computador ou telefone com frequência;
  • Parece “avoada”;
  • Apresenta dificuldade em manter a atenção;
  • Parece irritada e tende ao isolamento familiar e social
  • Dificilmente faz vínculos e brinca com outras crianças;
  • Apresenta dificuldade na alfabetização;
  • Troca de fonemas na escrita;
  • Apresenta dificuldade de aprendizado em geral.

E agora, vamos às dicas para ensinar nossos filhos a cuidarem de seus ouvidos, já que eles são muito importantes para a aprendizagem na escola e para a qualidade de vida

  1. Não ache normal tirar o fone de ouvido e perceber zumbido ou sensação de ouvido tampado; isso pode ser sinal de ouvido vulnerável e vale apara shows e baladas.
  2. Música é algo maravilhoso, mas em volume alto, ela agride os ouvidos mais cedo ou mais tarde. Então, com fones de ouvido, evite passar da metade da potência do aparelho e de 2 horas de uso contínuo. Assim, você previne zumbido, hipersensibilidade auditiva e perda de audição.
  3. Quando for sair, use protetores de ouvido sem sentir vergonha enquanto se diverte em festas, shows, bares, carnaval, estádio, trio elétrico, corrida (moto, kart, F1) etc. De preferência, faça intervalos de 10 minutos a cada 1 hora de exposição aos sons altos: isso pode ajudar a preservar seus ouvidos.
  4. Se perceber zumbido ou ouvido tampado depois de ouvir sons altos, avise seus pais para que eles procurem seu otorrinolaringologista o quanto antes. O tratamento precoce aumenta a chance de reverter os problemas.
Livro da Dra. Tanit Ganz Sanches: Quem disse que zumbido não tem cura?
Livro da Dra. Tanit Ganz Sanches: Quem disse que zumbido não tem cura?

*Dra. Tanit Ganz Sanchez

• Médica Otorrinolaringologista formada pela Universidade de São Paulo;
• Profa. Livre Docente e Associada da Otorrinolaringologia da Universidade de São Paulo
• Orientadora de pós-graduação da Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo;
• Fundadora e Diretora do Instituto Ganz Sanchez;
• Criadora e coordenadora do: – GANZ: Grupo de Apoio Nacional a Pessoas com Zumbido;
• Idealizadora do Novembro Laranja (Campanha Nacional de Alerta ao Zumbido); –
• Idealizadora da TV Zumbido (www.tvzumbido.com.br);
• Blitz do Ouvido (no Programa Bem Estar Global)
• Membro da ABORL-CCF;
• Membro do Corpo Editorial das revistas científicas: Clinics, International Archives of Otorhinolaryngology e Brazilian Journal of Otorhinolaryngology;
• Pesquisadora incansável sobre o comportamento humano e seus desdobramentos em saúde.

Dra.Tanit Ganz Sanchez

Dra.Tanit Ganz Sanchez

http://www.institutoganzsanchez.com.br
www.facebook.com/InstitutoGanzSanchezhttp://www.institutoganzsanchez.com.br/tvzumbido/

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