Papo de Mãe
» COMIDA E CULTURA

Existe uma receita para se viver?

Mais um delicioso texto da colunista Ariela Doctors a partir de uma reflexão dela com o filho Gael, de 11 anos. E com receita de broinha de milho no final

Ariela Doctors* Publicado em 20/05/2021, às 11h14

Veja a receita de broinha de milho
Veja a receita de broinha de milho

Começo meu texto desta semana trazendo um personagem que já trouxe em outros momentos desta coluna. Meu filho Gael, que tem 11 anos. Já discorri aqui um pouco sobre sua aptidão para a cozinha. Além de gostar de cozinhar, ele gosta de inventar receitas. Numa recente conversa com ele, surgiu essa pergunta. Ele questionou a possibilidade de se criar uma receita para se viver.

Ficamos refletindo sobre essa possibilidade.

Mas, à medida que íamos conversando ele começou a ponderar sobre a dificuldade dessa empreitada, já que as pessoas são muito diferentes umas das outras, vivem em diferentes realidades, são originárias de diversas culturas e territórios, têm diferentes problemas para enfrentar, desejos de toda a sorte... Então, não há receita?
Paramos por aí.

Porém, quem disse que meu pensamento estagnou neste ponto? Incrível como nossos filhos e filhas podem nos levar a revisitar nossa própria vida, pensamentos, existência e expandir nossos sentidos.

Ouvi recentemente do Ghandhy Piorski, artista plástico e pesquisador nas áreas de cultura e produção simbólica na infância, que “a vida vem se constrangendo para poder ser forma”. Daí que essa conversa com Gael me mostrou que a criança tem o poder de fazer exatamente o contrário disso - libertar, desembaraçar, desinibir.

Nascemos com essa aptidão e, infelizmente, vamos desaprendendo à medida que crescemos. O pensamento infantil carregado de inocência e espontâneo, ainda sem amarras, possibilita a expansão. Ele encontra sulcos desconhecidos nos meios de caminhos que parecem já tão traçados e enraizados em nós.

Por outro lado, será que a intenção de criar uma receita única para se viver, demonstra que ele está crescendo, deixando de ter o pensamento livre, se constrangendo para dar forma?

Veja também:


Talvez a percepção do sofrimento humano, a pandemia e suas consequências, estejam amadurecendo nele um desejo utópico de solução. Fiquei pensando que receita única mesmo não há.

Transportando essas reflexões para a educação infantil, como mãe e professora, conclui que quanto mais houver troca entre educador e educando e quanto mais investigações e reflexões interdisciplinares, melhor. Tudo isso nos dá a possibilidade de acessar novos sentimentos e sentidos para questões aparentemente já estabelecidas e, para as crianças, é motivo e meio de construção de saberes e experiências.

A cozinha é um excelente território de exploração. Os alimentos são incríveis objetos de pesquisa. Com um e com outro, a criança pode desenvolver sua criatividade, sua autonomia, seu pensamento científico e crítico, além da diversão.
Já que indubitavelmente, vamos nos constrangendo... façamos de forma leve, tentando ao menos deixar lacunas de expansão.

Segundo Gandhy, o sabor é luz interior e o sabor nos enlaça na cultura.
Eu acredito ser um caminho possível de educação. Numa simples receita é possível deixar o pensamento expandir com criatividade enquanto damos forma.

Escolher uma receita e seus ingredientes, organizar suas medidas e o espaço num pré preparo, observar as mudanças químicas e físicas do processo, perceber a receita pronta como uma conquista, partilhar o resultado com amigos e familiares são ferramentas incríveis e super disponíveis.

Aqui vai mais uma receita para você fazer em família: Receita Broinha de Milho

Avó e neta comendo broa de milho

Ingredientes

●  1/3 de xícara (chá) de fubá fininho

●  3/4 de xícara (chá) de farinha de trigo

●  1⁄2 xícara (chá) de leite

●  1⁄2 xícara (chá) de água

●  2 colheres (sopa) de açúcar

●  75g de manteiga sem sal

●  3 ovos

●  1⁄2 colher (chá) de sal

●  1 colher (chá) de semente de erva-doce (opcional)

●  Raspas de 1 limão-taiti (opcional)

Modo de Preparo

1. Preaqueça o forno a 220oC e unte uma assadeira grande com manteiga (se estiver usando uma antiaderente, apenas polvilhe com fubá).

2. Numa panela média, junte o leite, a água, o açúcar, a manteiga, as sementes de erva-doce e o sal. Leve ao fogo médio.

3. Assim que começar a ferver, adicione a farinha e o fubá e mexa bem com uma espátula para formar uma massa lisa. Deixe cozinhar por cerca de dois minutos, sem parar de mexer, até formar uma camada fina de massa seca no fundo da panela. Desligue o fogo e transfira a massa para a tigela da batedeira.

4. Bata em velocidade baixa, por cinco minutos, para esfriar. Adicione um ovo de cada vez, batendo bem entre cada adição. Depois do último ovo, deixe bater por cerca de dois minutos, até formar uma massa brilhante.

5. Com um boleador de sorvete, retire uma porção de massa e transfira para a assadeira (você também pode moldar as broinhas utilizando duas colheres de sopa). Repita com toda a massa, deixando um espaço de 3cm entre cada uma.

6. Polvilhe as broinhas com fubá e leve para assar em forno preaquecido a 220oC (temperatura alta) por 15 minutos, até crescerem – nessa etapa inicial o forno precisa estar bem quente para formar vapor e deixar a broinha oca. Após os 15 minutos iniciais, diminua a temperatura do forno para 180oC (temperatura média) e deixe assar por mais 25 minutos, até as broinhas ficarem douradas e firmes.

7. Retire do forno e sirva a seguir. Por serem ocas, também ficam ótimas recheadas.

Utensílios

●  Panela média

●  Colher de pau

●  Ralador

●  Peneira

●  Assadeira

●  Copo medidor

●  Faca

●  Batedeira

●  Fogão e forno

Você pode acessar outras receitas no site Comida e Cultura e conhecer mais do nosso trabalho no @projetocomidaecultura e no canal de youtube Comida e Cultura.

*Ariela Doctors é chef, comunicadora e mãe

Assista ao vídeo da pediatra Renata Rodrigues Aniceto, da Liga da Cozinha Afetiva, sobre obesidade infantil na pandemia:

AlimentaçãoAriela Doctors