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Existe mamilo ideal para a amamentação? Há controvérsias

O pediatra Moises Chencinski esclarece que diferentes tipos de mamilos não devem significar desafios à amamentação

DR. MOISES CHENCINSKI* Publicado em 28/03/2022, às 10h28

Como identificar o seu tipo de mamilo?
Como identificar o seu tipo de mamilo?

Muitas raças, tons de pele, estaturas e pesos, muitas cores de olhos, formatos de nariz, tipos de cabelos...  cada um é um. E, a esmagadora maioria de todas essas características não representa problemas.

Aí está a beleza e a peculiaridade do ser humano.

O que pode mudar, infelizmente, são a visão e o pensamento sobre cada um desses itens. E isso é, em grande parte, cultural ou falta de informação.

Assista ao Papo de Mãe sobre tipos de seio e tipos de bico.

Tamanho de seios (gestando ou não), de aréola, formato de mamilos (amamentando ou não) também podem representar particularidades, inclusive raciais. E, assim também, não necessariamente significar desafios à amamentação.

INFORMAÇÃO E REDE DE APOIO continuam fazendo diferença. Aliás, de forma bastante adequada, o tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno de 2.022 é: FORTALECER A AMAMENTAÇÃO. EDUCANDO E APOIANDO.

E a EDUCAÇÃO a que se refere o slogan não é da mãe e sim de toda a sua rede de apoio, que deveria começar pelas políticas públicas, governos, empregos, mídia, passando pelas escolas (desde o ensino fundamental chegando às escolas médicas, de enfermagem, nutrição, odontologia, fisioterapia, psicologia e fonoaudiologia, entre outras) e chegando ao profissionais de saúde materno-infantil. É muita EDUCAÇÃO com certeza.

Como identificar o seu tipo de mamilo?

Nem sempre um mamilo que parece retraído ou invertido na aparência fica verdadeiramente invertido durante a mamada. Para identificar qual o seu tipo, basta apertar suavemente a aréola, três centímetros atrás do mamilo. Observe se ele sai (protuso), se fica plano ou se ele se retrai (fica invertido). Mas vale reforçar que nem o tamanho do seio e nem tipo de mamilo têm relação com eficácia de amamentação.

É inegável a importância de uma observação profissional da mamada, do começo ao final, nos dois seios, pelo menos uma vez na maternidade e na primeira consulta com o pediatra. Assim, deveria ser obrigatório que profissionais da área de saúde materno-infantil recebessem e informações a respeito de amamentação (técnicas, importância, manejo, aconselhamento) durante seus cursos de formação e estivessem familiarizados com o formulário de observação de mamada.

Pega (na aréola e não no bico) e posição adequadas, com livre demanda, fazem toda a diferença no processo.

Tipos de mamilo

Para que a mamada seja tranquila, a mãe fica bem acomodada e posiciona o bebê de forma confortável e adequada. A seguir, a preparação para um dos "fantasmas" da amamentação: a pega (não deveria ser). Segurando o seio que vai ser oferecido, com a mão fazendo um C (para trás da aréola), a mãe encosta seu mamilo no lábio superior do bebê, que abre bem a boquinha. Aí, ela direciona o seio com o mamilo apontando para dentro e para cima da cavidade oral como se quisesse tocar o céu da boca do bebê. Quando é abocanhado de forma adequada, pela aréola, o mamilo vai na direção do palato mole (aquela parte mais mole do céu da boca) e então, a "mágica acontece".

Assim, o queixo encosta na mama, o nariz se afasta do seio, pescoço fica retinho e alinhado com o corpo, boquinha bem aberta (lábio superior e inferior voltados para fora), as bochechinhas arredondadas (sem covinha), com mais aréola visível acima do que abaixo da boca do bebê. É menos complexo do que parece.

Podemos "classificar" os mamilos em 3 tipos básicos:

  • Mamilos protusos: A grande maioria das mulheres se encaixam nesse perfil. O “bico” se projeta à frente da aréola, são grandes e marcam na roupa. Ficam rígidos facilmente quando estimulados pelo toque dos dedos ou lábios do bebê ou até mesmo em temperaturas baixas;
  • Mamilos planos ou rasos: Não é o bico que salta e se projeta para frente. A aréola e o bico ficam na mesma linha. Mas quando estimulados pelo toque dos dedos ou lábios do bebê funcionam da mesma maneira que o mamilo protuso;
  • Mamilos invertidos: são aqueles em que o bico está para dentro da aréola, como se fossem "covinhas". Quando estimulados pelo toque dos dedos demoram a sair (pseudo-invertidos) e às vezes nem saem (verdadeiramente invertidos). Estes podem dar mais trabalho, mas não são impeditivos para amamentação.

O conhecimento dessa anatomia é importante, assim como o do funcionamento da mamada. AMAMENTAR NÃO DEVE DOER. Se existe dor, algo precisa ser modificado. Sensibilidade, estranheza, desconforto... sim. DOR – NÃO.

Veja também: 

Nem conchas, nem bicos de silicone e ... arghhh... nem manobra de Hoffman

Ao contrário do que se propaga ainda (inacreditavelmente), nem as conchas e nem os intermediários de silicone devem ser usados, nem para “facilitar a formação dos bicos”, nem para armazenar leite ou favorecer a amamentação, nem na gestação e nem no período de aleitamento materno.

Além de não existirem estudos que comprovem os benefícios e da já conhecida e comprovada confusão de bicos, quadros de candidíase mamária, obstrução de ductos, ingurgitamento mamário e mastites são frequentemente causados pelo uso desses “apetrechos”.

Pior do que isso, é uma manobra que era (ainda existem defensores, acreditem) usada para reverter os bicos invertidos: a manobra de Hoffman ou a “técnica da seringa invertida” (tá imaginando?). São duas as técnicas indicadas:

  • Puxar a pele das aréolas com os polegares para os lados (um para o lado direito e o outro para o esquerdo) e depois para cima e para baixo várias vezes ao dia.
  • Cortar a ponta da seringa, tirar o êmbolo, colocar pela parte cortada e, em seguida, ajustar a seringa ao mamilo e puxar delicadamente o êmbolo (afffeeee).

Dois estudos antigos (1992 com 92 mulheres com uso das conchas e 1994 com 463 mulheres usando exercícios de Hoffman) foram confirmados por uma nova pesquisa sobre o tema, mostrando que não se deve usar conchas, intermediários de silicone ou exercícios de Hoffman.

INFORMAÇÃO E REDE DE APOIO. A base para a mulher que quer amamentar.

*Dr.  Moises Chencinski , pediatra e homeopata.

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