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Esqueça o controle: cuide da sua regulação emocional

Ensinar enquanto aprende é uma aventura exigente mas pode ser divertida e prazerosa sim. Entenda a regulação emocional

Mariana Wechsler* Publicado em 20/04/2022, às 07h00

O ingrediente fundamental para uma estratégia de regulação emocional eficaz é a autoconsciência
O ingrediente fundamental para uma estratégia de regulação emocional eficaz é a autoconsciência

Quem é você quando as coisas saem do planejado?

Quando as expectativas construídas lindamente e pintadas como se fosse um quadro do céu de outono se desfazem?

Quando você precisa ninar por mais de 3 horas até o bebê dormir, quando o arroz queima no fundo da panela, e os irmãos começam a se bater na sala por causa daquela bolinha de sabão que você se relutou a comprar. Quem é você quando a criança chora enormes lágrimas pois não consegue resolver a lição de casa, quando insiste querer vestir o shorts que está dentro da máquina de lavar.

Quem é você quando a vida pede jogo de cintura, humor e dança, mas tudo que você tem a oferecer é rigidez, controle e grito?

É importante refletir sobre quem queremos ser e que tipo de memórias desejamos plantar.

Emoção é pra ser sentida; não dá pra controlar, embora você possa influenciar a intensidade do que está sentindo.

Uma emoção é um estado psicológico que envolve três componentes distintos: uma experiência subjetiva, uma resposta fisiológica e uma resposta comportamental ou expressiva.

A gente pode dizer que as emoções são estados biológicos que surgem como resultado de pensamentos, sentimentos e comportamentos . Elas são funcionais: trazem informação e preparam a gente para alguma ação.

Ou seja, em função de algum estímulo, a gente sente algo fisicamente e tem uma reação. É a parte da reação que a gente pode “controlar”. E a este processo se dá o nome de regulação emocional.

Esse é um processo indireto, já que a emoção, por mais que a gente tente, não está sob nosso controle diretamente. A gente pode é aprender a regular a intensidade do que está sentindo a partir de mudanças na forma como a gente pensa e/ou na forma como a gente age.

A pergunta fundamental aqui é: quais mudanças consistentes posso fazer em meu pensamento ou comportamento que vão resultar em emoções menos intensas e mais saudáveis a longo prazo para cultivar uma boa relação com meus filhos?

Regular bem as emoções não é algo que acontece da noite para o dia. É o resultado de muitas decisões, grandes e pequenas, feitas de um modo intencional e RECORRENTE ao longo do tempo. Não é algo que você faz uma vez e pronto, resolveu o problema. É algo que você precisa REPETIR.

Sugestão: assista ao Papo de Mãe sobre como ensinar seu filho a lidar com as emoções

O fato é que a gente não aprendeu quase nada sobre como as emoções funcionam, nem na escola nem na dinâmica familiar. Muito menos teve orientação sobre como é possível ter uma relação mais saudável com o nosso emocional. Então, obviamente, a gente se sente desconfortável e impotente quando as emoções aparecem e parecem ter vida própria.

O ingrediente fundamental para uma estratégia de regulação emocional eficaz é a autoconsciência.

Na prática, significa cultivar disposição e atenção para compreender os seus processos emocionais e um conjunto de hábitos que mantenham você mentalmente flexível e emocionalmente competente.

Só que cultivar novos hábitos e mudar a resposta emocional está longe de ser rápido e fácil! Vai demandar observação, intenção, ação e, principalmente, paciência consistentemente. E aqui está o xis da questão: fazer isso é realmente mais difícil do que o que você já está vivendo agora?

Existem algumas habilidades que podem apoiar o seu aprendizado de regulação emocional, como a prática da atenção plena e a clareza dos seus valores.

Uma prática séria de atenção plena é benéfica porque fortalece seu músculo da atenção e da presença.

Lembra que a forma como você pensa influencia como você se sente e isso determina como você age?

Um exemplo prático, a criança fala choramingando, pede choramingando, todas as formas que ela se expressa seguem o mesmo padrão.

Esse tipo de linguagem aciona sua parte emocional que faz você ter alguns tipos de pensamentos, então, você não leva em consideração o processo de desenvolvimento cerebral da criança e nem as necessidades não atendidas e de forma automática, você reage de acordo com o que sente e a tendência é a explosão.

O modo com que você está acostumada a pensar, os julgamentos que faz, as suas interpretações e as ruminações automáticas, tudo isso depende totalmente da sua capacidade de modular a sua atenção e nisso o mindfulness pode ajudar muito nesse processo.

A segunda habilidade que pode apoiar o seu aprendizado de regulação emocional, é em relação aos seus valores, quanto mais claro estiver para você sobre que tipo de relacionamento você quer cultivar com a criança, maiores serão as oportunidades de você colocar a atenção em pratica antes de reagir impulsivamente.

E a terceira habilidade, é sobre se divertir, ser leve e não se levar tão a sério.

Ensinar enquanto aprende é uma aventura exigente mas pode ser divertida e prazerosa sim.

Trazer humor para as fases difíceis da vida salva.

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Quando descobri minha gestação gemelar, o maior medo que senti foi de mim mesma. Que tipo de mãe eu seria, que condições eu tinha para isso? Sentir esse medo me fez entrar em movimento de encontro comigo mesma, o que nem sempre é bonito, mas foi essencialmente necessário.

Minhas maiores questões eram: como educar minhas filhas para que elas sejam respeitosas, como criar de forma que elas se tornem bons seres humanos para esse mundo?

A gente tende a fazer as perguntas acreditando que a resposta é sobre o outro, mas sobre ele não temos controle nenhum. Filhos são o outro, as vezes esquecemos disso. É tanto amor que sentimos como se fossem uma parte da gente andando fora do nosso corpo, mas eles não são, são seres humanos completos e não existe controle sobre quem outro ser humano completo será.

O que temos controle é sobre quem somos e quem seremos. É sempre sobre nós mesmos, quem nós escolhemos ser no processo de educar, amar, ser ponte de outro alguém que está crescendo, se desenvolvendo, se descobrindo e descobrindo um mundo, em parte, através da gente.

Com o tempo eu aprendi que deveria mudar as perguntas para:

  • Como eu aprendo a ser respeitosa?
  • Como eu me torno alguém melhor do que sou hoje?
  • O que é ser uma boa pessoa e como eu repenso isso na minha própria existência?

Aquilo que podemos melhorar é fundamentalmente sobre nós mesmos. Vamos ensinar as nossas crianças aprendendo primeiro e sendo.

Mergulhando nos nossos processos de auto conhecimento, questionando certezas absolutas, abrindo espaços dentro da gente para questionamentos e construções conjuntas, perdendo o medo de admitir que não sabemos, que erramos, aprendendo finalmente a escutar, na busca intencional por alargar as fronteiras da nossa humanidade.

As crianças vão estar ao nosso redor observando tudo e aprendendo. Portanto, preocupe-se com aquilo que depende de você.

Busque descartar da sua mente as informações e tarefas que você não precisa. Porque aí fica muito mais fácil para sair do modo controladora que a gente tanto cultivou nos primeiros anos do bebê.

Inclusive no casamento. Comece a fazer esse exercício, assim você acaba não dando tanto palpite para os assuntos que não te compete e gradualmente passará a se sentir menos sobrecarregada e mais leve.

Seja sua melhor amiga em primeiro lugar, seja a pessoa Fantástica que você é.

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Mariana Wechsler e os filhos
Mariana Wechsler e os filhos

*Mariana Wechsler, Educadora Parental, especialista em educação respeitosa, budista há mais de 34 anos e formada em Comunicação. Mãe de Lara, Anne e Gael. Escreve sobre parentalidade consciente, sobre os desafios da vida com pitadas de ensinamentos budistas e suas experiências morando fora do Brasil, longe de sua rede de apoio. Acredita que as mães precisam aprender a se cuidar e se abraçar, além de receberem apoio e carinho. Sempre diz: “Seja Fantástica! Seja sempre a sua melhor amiga”.

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