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Enurese noturna: o que está por trás do xixi na cama

Roberta Manreza Publicado em 06/09/2015, às 00h00 - Atualizado em 08/09/2015, às 08h43

Imagem Enurese noturna: o que está por trás do xixi na cama
6 de setembro de 2015


Comum entre crianças de 4 e 5 anos, esse distúrbio comum pode estar ligado a problemas genéticos e até psicológicos. Saiba como identificar e tratar

Por Fernanda Carpegiani – Crescer

Enurese noturna (Foto: Chris Bernard/gettyimages)

Seu filho molhou o lençol enquanto dormia. Tudo bem, isso acontece. Mas o episódio vem se repetindo e ele já é grande o suficiente para evitar esse tipo de escape, comum durante a fase de desfralde. Sinal de alerta para enurese noturna, que atinge cerca de 15% das crianças por volta dos 5 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia. É uma parcela expressiva da população infantil que enfrenta o constrangimento e o desconforto de acordar coma cama ensopada. Para ajudar os pais a lidar com a disfunção sem traumas, CRESCER esclarece as dúvidas mais frequentes. Confira!

O que causa a enurese noturna?
Ela pode ocorrer por fatores genéticos, psicológicos, atraso no desenvolvimento do mecanismo fisiológico responsável pela micção, redução da capacidade funcional da bexiga, anormalidades na produção noturna do hormônio antidiurético ou no trato urinário e dificuldades para despertar e ir ao banheiro.

Então, pode ser uma questão emocional e não física?
Sim, principalmente quando os escapes aparecem seis meses depois de a criança adquirir o controle absoluto do xixi durante a noite. Isso pode acontecer se ela estiver passando por situações de estresse em casa, como a separação dos pais ou o nascimento de um irmão.Em alguns casos, o problema está associado ao transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Mas, para apontar uma causa psicológica, é preciso primeiro afastar eventuais
patologias físicas.

A doença pode trazer consequências emocionais?
Sim, deixando a criança envergonhada ou com medo de falar que fez xixi na cama outra vez. Dormir na casa de amigos, então, nem pensar. A enurese compromete a socialização, por isso, é importante que os pais entendam o caráter involuntário da doença e sejam compreensivos com os filhos. Não adianta brigar. Pelo contrário, reprimir piora o quadro e abala ainda mais a autoestima da criança. É importante ganhar sua confiança, motivá-la a fazer o tratamento e superar a disfunção. Em alguns casos, a ajuda de um psicólogo é bem-vinda.

Como diferenciar a enurese de uma escapada normal?
Aos 2 anos, a criança começa a adquirir o controle dos esfíncteres e consegue eliminar ou segurar tanto o xixi quanto o cocô durante o dia. Por volta dos 3 anos, ela consolida essa continência, pelo menos no período diurno. Escapadas eventuais são consideradas normais até seis meses depois. Só após um ano a criança conquista a continência noturna. É por isso que somente a partir de 4 a 5 anos o xixi na cama passa a ser motivo de atenção. Observe os horários dos episódios, a frequência das micções diurnas (que deve ser de quatro a sete vezes ao dia) e a ocorrência de retenção urinária, perdas involuntárias e episódios de urgência, como sair correndo para fazer xixi. Dor abdominal ou lombar e pouca ingestão de água também são preocupantes.

Quando é preciso procurar um médico?
O pediatra pode ajudar a identificar os sintomas e dizer se é o caso de encaminhar a criança para um nefrologista ou urologista pediátrico. Todas as manifestações comentadas acima, quando presentes e persistentes, devem ser avaliadas. Principalmente após o final do processo de desfralde ou diante de escapes noturnos, acima dos 5 anos. Em casos de distúrbios psicoemocionais, a consulta deve ser antecipada. Se houver suspeita de patologia urinária ou neurológica, a avaliação dirigida pode ser realizada precocemente, a critério da equipe médica.

Como é feito o diagnóstico?
O exame clínico costuma ser normal, por isso é preciso considerar os antecedentes pessoais e familiares, o desenvolvimento psicomotor, as informações sobre o treinamento e controle esfincterianos e os sintomas de distúrbios relacionados ao enchimento e esvaziamento da bexiga. Adicionalmente, pode ser necessário submeter a criança a um exame genital, neurológico, de urina e de sangue.

E o tratamento?
Existem terapias específicas que variam desde a administração da desmopressina – um medicamento análogo ao hormônio antidiurético – até o tratamento fisioterápico. Também ajuda bastante estimular a criança a beber água durante o dia, reduzindo a ingestão à noite, depois do jantar, e incentivá-la a fazer xixi antes de dormir.

Fontes: Olberes Vitor Braga de Andrade, Nefrologista Pediátrico, Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria e Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Evelise Tissori Vargas, Nefrologista Pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe (SC).




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