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"Dizer que eu sou uma travesti é também um ato político", diz Laura Prevato

Ativista dos direitos LGBTQIA+, a travesti Laura Prevato fala sobre a relação com a família, da importância do acolhimento e do afeto

Mariana Kotscho* Publicado em 28/09/2021, às 08h57

A ativista Laura Prevato
A ativista Laura Prevato

Não é exagero insistir na importância do diálogo com filhos e filhas para promover uma aproximação de pais e mães com suas crianças e adolescentes. O conhecimento e a compreensão de como eles e elas são ajudam no crescimento, no amadurecimento e, muitas vezes, na quebra de preconceitos.

Como resume a ativista dos direitos de pessoas LGBTQIA+, Laura Prevato, "ninguém quer ter um filho ou filha gay ou trans". Mas e se for? Qual o problema?

Há várias respostas para isso: preconceito, aceitação, medo. Segundo Laura, a expectativa de vida no Brasil de uma pessoa transexual, por exemplo, é de 35 anos (dados do IBGE), muitas vezes são pessoas vítimas de violência e até assassinatos. "Ninguém escolhe isso, mas a gente não quer transgredir, a gente quer ser a gente, é algo natural, não quer agredir ninguém. Não ser o que eu sou seria me agredir", diz Laura.

Assista à entrevista completa com Laura Prevato para o Canal Papo de Mãe

Laura conta que desde pequena se via como menina: "Eu me dava nomes de menina, usava roupas de menina e nas brincadeiras queria ser a secretária. Mas sempre vinha um adulto e interferia na minha brincadeira dizendo que eu não podia ser a secretária", revela ela, demonstrando que o preconceito começa cedo.

Essa parte com a família é muito delicada e é onde a gente precisava ter mais apoio. A partir do momento em que a família não te legitima, tudo fica mais difícil perante a sociedade, a família é nosso primeiro pilar, então se a gente não tiver o apoio da família todo o restante fica mais difícil e infelizmente comigo não foi diferente. (Laura Prevato)

Para a família nem sempre é fácil aquilo que chamamos de "aceitação". A mãe de Laura até hoje não consegue a chamar por este nome, mas pelo nome dela de nascimento, de menino. "Existe uma distância muito grande. Até tem uma aceitaçao, mas não tem uma integralidade nesta aceitação. Minha mãe não consegue me chamar de Laura".

A ativista conta que quando teve a conversa "oficial" com a mãe, ela chorou muito (embora não fosse uma novidade para ela) e decidiu a levar para um psicólogo que chegou a apresentar um programa de "cura gay", que deixou Laura arrasada. Mas um tempo depois, Laura encontrou uma profissional adequada e que a ajudou muito.

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"As pessoas trans de uma maneira geral amadurecem mais rápido porque têm que driblar várias situações. Meu irmão mais velho sempre queria me botar para jogar bola porque, afinal, eu era "menino".

Eu já era uma criança trans. Hoje faço questão de me identificar como travesti e de que as pessoas também usem este termo, porque é um termo ainda muito estigmatizado e eu faço questão de me identificar enquanto travesti. Também não me incomodo de ser chamada de mulher trans, são identidades que conversam, mas acho que cada pessoa que vai determinar isso. Por uma questão política prefiro me apresentar como travesti. O melhor é perguntar para a pessoa. E esta definição não tem relação nenhuma com a cirurgia de sexo. A pessoa que vai determinar a identidade dela." (Laura Prevato)

E em relação ao pai? "Meu pai virou pra mim e simplesmente disse: 'Minha vontade era te matar'. Mas hoje ele aceita melhor do que a minha mãe e até já me chamou de Laura".

A importância do apoio

Laura Prevato sempre teve muito apoio das mulheres da família dela, o que a ajudou bastante, mas teme o momento que vivemos. Lembra que o Brasil ainda é um país extremamente homofóbico e que houve um retrocesso recentemente nos avanços dos direitos LGBTQIA+.  Mas ainda tem esperança em acreditar nas instituições para que conquistas importantes não fiquem para trás.

Ela diz que sempre teve vontade de ser mãe, mas com a realidade atual deixa este desejo em suspenso, à espera por dias melhores.

*Mariana Kotscho é jornalista

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