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Como é ter um irmão à disposição?

Prós e contras de ter alguém 24 horas pronto pra brincar, brigar ou fazer nada - como um irmão ou irmã!

Redação Publicado em 04/05/2022, às 08h56

Quando nasce um irmão, ele demora um pouco para aprender a brincar - Foto: banco de imagens
Quando nasce um irmão, ele demora um pouco para aprender a brincar - Foto: banco de imagens

Tive um filho único durante 5 anos e, de repente, na tentativa do segundo, vieram duas, as gêmeas diferentes, Georgia e Isadora. Há uma série de disparidades comportamentais entre ter um filho só e ter mais filhos. Vou me concentrar aqui, dessa vez, no tema de ter alguém o tempo todo disponível pra você e vice-versa. Não se encaixa tanto em ter filhos com grande diferença de idade, mas sim, a mesma ou bem próxima.

O Igor sempre foi um garoto que se divertia horas a fio com uma bola no pé ou carrinhos na mão. Fazia traves com caixas de papelão, chinelos ou só na imaginação, tudo na vida infantil dele era chute a gol ou lançamento de carrinhos de ferro. Falava, narrava, comemorava e ficava bravo, tudo junto e misturado. Ele tinha até um amigo imaginário, o Hemann (acho que deve ser essa a grafia pelo meu entendimento), e se divertiam a valer. Não vou fazer uma análise psicológica de tal amizade até porque nem é minha aptidão e, pelo feeling materno, era bem legal e saudável essa dupla! Acho que o amigo invisível, Hemann, foi presente dos 4 aos 6 anos, por aí. Durante o banho, em banheira, eu tinha grudado no azulejo uma mini-cesta de basquete com bolinhas que pareciam de ping-pong. Com a porta entreaberta, eu escutava o Igor se divertindo “ponto meu!”, “agora sua vez”, “não Hemann, esse não valeu!”, “vamos mais uma partida” e a brincadeira se estendia até a água do banho gelar, literalmente. Hemann foi um companheirão e do mesmo jeito que veio, partiu. O Igor, em seus atuais 21 anos, tem ainda na memória afetiva o amigo inventado e sorri largo sempre que eu o relembro as histórias.

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Os irmãos Igor, Georgia e Isadora

Retornando ao irmão 24 horas, o Igor também requisitava bastante a mim e ao pai em brincadeiras. Era um mãe joga damas comigo, pai joga futebol, vamos desenhar, montar quebra-cabeça, pistas com loopings para os carrinhos e outras diversões da idade. Muitas vezes atendíamos prontamente e nos divertíamos, mas outras estávamos ocupados ou, confesso, com preguiça mesmo.

Já as gêmeas sempre tiveram uma à outra o tempo todo e com os mesmos interesses de distração. Imagine que delícia ter alguém com a mesma energia que a sua e disposta a brincar de tudo que você gosta porque gosta também! Certa vez, a Georgia e a Isadora, acho que com uns 5 anos, estavam no quarto e eu na cozinha escutava um “mãe, mãe” e, de novo, “mãe!”. Fui até elas atendendo o chamado: “O que foi?”. As duas simultaneamente olharam pra mim, sem muito entender minha aparição e emendei: “Vocês me chamaram?”. Imediatamente um brilho de felicidade surgiu nos olhares das duas pequenas. “Não, mãe, minha mãe é a Isadora!”, e emenda a mamãe da vez: “A Gê é minha filha e depois a gente troca! Pode ir embora, mãe!”. E fui! Achando aquela cena o máximo e a vida individual familiar delas incrível!

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Até hoje, adolescentes, elas se dão bem, se completam, se consultam, trocam dicas, roupas (essa tem sempre discussão envolvida) e compartilham os mesmos programas, festinhas, amizades. Uma união com separação das individualidades. Elas têm personalidades próprias e, como todos os irmãos, uma relação de guerra e paz, claro.

Teve também a fase de muitas integrações com os três juntos. Tinha esconde-esconde, pega-pega, jogos, piscina, castelo de areia, frescobol, futebol e boneca. Igor, Georgia e Isadora brincaram muito juntos na fase em que se parearam na infância. Existe uma época em que a diferença de idade parece diminuir, depois aumenta de novo e acredito que na fase adulta zera de vez. Hoje meu filho é meio guardião com um pouco de ciúmes das irmãs, mas ainda brincam, brigam ou não fazem nada. Às vezes cada um no seu celular, de vez em quando um Tik-Tok em parceria ou um vídeo comentado e compartilhado. Não importa o que estejam ou não fazendo, mas as oportunidades de vê-los e tê-los juntos são um colírio para os olhos e um alento ao coração. Cena pra gravar na memória, já que pra registrar em fotografia é quase um insulto. Basta posicionar o celular que logo fogem resmungando e se a foto roubada virar post não autorizado, quase sempre termina deletado.

Sempre digo aos meus filhos que irmãos devem ser melhores amigos. Não precisam ser amigos diários de confissões e conselhos, mas amigos que, se e quando precisarem, podem contar! Aquela disposição por livre demanda infantil vai diluindo com o crescimento cronológico e o redirecionamento de prioridades individuais. Natural, acredito. No amadurecimento dos irmãos o à disposição é substituído pelo estar disposto. Em outras palavras é ter sempre alguém pra segurar a mão, mesmo que não mais o tempo todo, apenas no instante necessário. E isso, é um tempo precioso!

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Fernanda de Luca

*Fernanda de Luca tem 54 anos, é  jornalista praticante há 32 anos e contando, mãe do Igor (21), Georgia e Isadora (gêmeas diferentes, 16) e casada com o Grego. Foi repórter do Papo de Mãe na TV Brasil.

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