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Como desenvolver a educação antirracista na escola

Ao lado da família, a escola é o principal espaço de socialização da criança. É ali que ela se depara com o outro, com a diversidade e passa a aprender valores éticos e morais, construindo, inclusive, sua identidade antirracista

Tatiane Santos* Publicado em 20/06/2021, às 11h26

A educadora Tatiane Santos, colunista do Papo de Mãe - Foto: Michelle Calixto
A educadora Tatiane Santos, colunista do Papo de Mãe - Foto: Michelle Calixto

Pensar uma educação antirracista envolve tratar da relação entre pessoas, que vivem em uma estrutura racista, que provém de educações diferentes e de diferentes crenças também. É permitir que todos tenham sua identidade e história acolhidos no espaço escolar.

E o processo de acolhimento e de reconhecimento das identidades requer que a escola repense todas as suas dimensões: curricular, formativa, de atendimento, avaliação. Material didático, arquitetura e rotina. Também depende de ciência, pesquisa, cumprimento da Legislação, e de uma atenção cotidiana construída dentro de cada escola.

A educação antirracista exige pensar nas manifestações racistas e no que as sustentam, em todas as dimensões de uma escola. A educação infantil é a fase inicial da vida de um ser humano, pois as coisas que vivemos e sentimos, expressamos e aprendemos, podem produzir marcas que ficam presentes ao longo de nossas vidas, nos ajudando a viver melhor ou impedindo que isso aconteça.

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Além disso, a educação infantil é uma fase na qual se aprende rapidamente e em grande quantidade. Ali está estabelecido que a função do educador é de a de cuidar e educar. A dimensão desse cuidar não se restringe tão somente na manutenção das condições básicas de higiene, alimentação e segurança. Estão contidas nesta dimensão as necessidades do educador cuidar da criança também nos aspectos relativos à sua subjetividade, individualidade, identidade.

Precisamos incluir como papel fundamental da escola exterminar o racismo que mata o que de mais belo os sujeitos têm, qual seja a capacidade de amar o outro com suas singularidades. Isto é, aprender a viver e a conviver com quem é diferente de mim. Ensinar isso é tarefa que cabe aos familiares, mas também aos educadores. Uma criança, desde bebê, percebe quando alguém é mais bem aceito pelos adultos do que outro.

Não é difícil para elas perceberem se outras crianças recebem mais carinho, mais beijos, mais abraços, se as suas fotos são mais expostas, se os lugares destinados a determinada criança é ou não privilegiado. Todas as crianças: brancas, negras ou indígenas são capazes de perceber a desigualdade instalada nos ambientes quando ela existir.

Mesmo que ainda não consigam verbalizar isso, percebem. O desenvolvimento da identidade e da autonomia estão intimamente relacionados com os processos de socialização. Nas interações sociais se dá a ampliação dos laços afetivos que as crianças podem estabelecer com as outras crianças e com os adultos, contribuindo para que o reconhecimento do outro e a constatação das diferenças entre as pessoas sejam valorizadas e aproveitadas para o enriquecimento de si próprias.

O que fazer então para combater o racismo?

• Ofereça condição para que a criança tenha diversos tipos de brinquedos e livros, que tenham também personagens negros como protagonistas.

• Encare a criança como agente no mundo, que traz seus saberes e conhecimentos.

• Ouça e observe mais o seu filho para entender as subjetividades que ele tem, pergunte quem são seus amigos na escola, leve o seu filho para brincar em lugares que tenham crianças diversas e não somente iguais a ele.

• Promova experiências focadas em trocas culturais diversas, lembrando que combater o racismo é lei (Lei 10.639/03 ) e o papel das escolas nesta tarefa está previsto em diversos documentos, como na Constituição, na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e no Plano Nacional de Educação (PNE).

Um importante modo de de o antirracismo acontecer nas escolas é a partir de sua apropriação pelos professores em cursos de formação, que objetivam promover uma reflexão sobre esses aspectos ainda não contemplados na maioria dos cursos de graduação. Para isso, indico o meu curso que está na Plataforma Hotmart: "Práticas Antirracistas em sala de aula". Para você educador e tbm para quem quer aprender sobre o antirracismo na prática clique aqui para se inscrever no curso.

*Tatiane Santos é autora do livro infantil Super Black: o poder da representatividade, pedagoga e professora da rede pública de ensino 

@pretinhaeducadora

Assista entrevista com Tatiane Santos

Tatiane Santos - Pretinha Educadora