Papo de Mãe

Com que idade a criança pode usar computador e assistir à televisão?

Roberta Manreza Publicado em 23/10/2015, às 00h00 - Atualizado às 07h22

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23 de outubro de 2015


Novo documento da Academia Americana de Pediatria aponta para fim da idade mínima e do limite de horas por dia para o uso de gadgets. Mas será que tudo bem?

Por Juliana Malacarne Crescer Online

Tablet_criança (Foto: Thinkstock)

A Academia Americana de Pediatria (AAP) anunciou este mês que pretende mudar suas recomendações sobre o uso de telas para crianças. Entram nessa conta o computador, o tablet, a televisão e o celular. O foco da Academia agora é orientar os pais em relação à maneira como esses aparelhos tecnológicos vêm sendo utilizados e não mais determinar uma idade mínima ou a quantidade de horas máxima.

Anteriormente, a instrução da Academia era para que crianças abaixo de 2 anos não tivessem “tempo de tela” em sua rotina. As maiores deveriam ficar no máximo duas horas por dia na frente dos aparelhos. “Em um mundo em que ‘tempo de tela’ está se tornando simplesmente ‘tempo’, nossas políticas devem evoluir ou ficar obsoletas”, lê-se na nota divulgada pela AAP para justificar as mudanças.

Um dado levantado pela Common Sense e utilizado no documento aponta que 30% das crianças norte-americanas utilizam um aparelho móvel pela primeira vez antes de completar 2 anos. Essa realidade mostra que os pequenos estão se conectando cada vez mais cedo e que essa é uma tendência que, aparentemente, não será revertida tão cedo.

Novas recomendações

O documento completo com as novas recomendações da Academia Americana de Pediatria será divulgado apenas no começo de 2016, mas a instituição já adiantou alguns tópicos centrais para garantir o uso benéfico e saudável de telas para crianças:

Seja o pai e o modelo – As regras que se aplicam às crianças em ambientes virtuais ou reais são as mesmas. Brinque com os filhos e estabeleça limites. Envolva-se com o que seu filho está fazendo. É importante também controlar o seu próprio uso de aparelhos eletrônicos, já que a interação face a face continua essencial.

Nós aprendemos uns com os outros – Bebês aprendem melhor por meio da comunicação com outra pessoa. Conversar com a criança é fundamental para seu desenvolvimento linguístico. Assistir a vídeos não faz com que o bebê desenvolva a fala.

O conteúdo é importante – A qualidade do conteúdo é mais importante do que a plataforma ou do que o tempo gasto com o aparelho. Dê mais importância à maneira com que seu filho utiliza o tempo em vez de simplesmente cronometrá-lo.

Envolver-se é essencial – Jogue um videogame com seu filho. Sua perspectiva influencia a maneira como a criança entenderá a experiência. Para pais de bebês, estar envolvido quando ocorre o uso de telas é essencial.

Crie zonas livres de tecnologia – Preserve as refeições em família. Carregue os aparelhos eletrônicos fora do quarto das crianças. Essas ações estimulam o tempo em família e hábitos mais saudáveis de alimentação e sono.

Tecnologia como aliada

Segundo Luciana Almeida, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, não há razão para proibir as crianças de usar as telas, porém, a idade mínima de 2 anos deveria ser mantida. “Antes disso, a fase em que o bebê está ainda é muito oral, então é possível que ele não consiga interagir direito com os aparelhos tecnológicos”, afirma. “A partir daí, já existem diversos programas desenvolvidos para crianças pequenas que estimulam o aprendizado e o raciocínio”, diz.

Um estudo divulgado recentemente pela Universidade de Chicago comprovou a eficiência de um aplicativo criado para desenvolver o raciocínio matemático em alunos do ensino fundamental. O desempenho de 587 crianças de diferentes classes sociais foi analisado por um ano. As crianças que usaram o aplicativo de matemática pelo menos duas vezes por semana melhoraram suas notas ao longo do período. A melhora, porém, não está diretamente ligada ao tempo de uso do aplicativo. Os alunos que usaram a ferramenta mais do que duas vezes por semana não tiveram ganho no desempenho maior do que os que utilizaram apenas duas vezes.

O bom senso é a melhor medida

Apesar de ter  potencial para ajudar a criança a se desenvolver em diversos aspectos, o uso contínuo de aparelhos eletrônicos representa uma ameaça já conhecida da ciência. De acordo com Christian Müller, do Departamento de Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os problemas relacionados ao excesso de exposição aos gadgets podem envolver tanto questões físicas quanto comportamentais. “As crianças podem apresentar dores musculares, articulares, má postura, dores de cabeça, alteração visual e alteração de sono” afirma. “Podem ainda ter sintomas de ansiedade, irritabilidade, agressividade, queda do desempenho escolar e isolamento”, completa.

Por conta dos problemas que os eletrônicos podem trazer, o pediatra acredita que a antiga recomendação de até 2 horas por dia continua válida, mas o importante é que seja respeitada a realidade de cada família e o bom senso dos pais. “O ideal é que o período que a criança fica exposta a telas não seja ininterrupto, mas intercalado com outras atividades de rotina, como estudo, leitura, brincadeiras e atividades ao ar livre”, defende.

A experiência da criança longe dos gadgets continua sendo essencial para o desenvolvimento. É brincando com objetos e por meio da interação direta com outras pessoas que ela desenvolverá a capacidade de imaginar e fantasiar, o que permite um maior desenvolvimento emocional. Quando se substitui o concreto pelo virtual, a etapa da simbolização, que possibilita todos esses avanços, é extinta.

A criança só quer ficar na frente do computador. E agora?

Depois que a criança se torna dependente dos aparelhos eletrônicos, é mais difícil reverter a situação. Luciana atende frequentemente crianças que enfrentam esse problema. “Quanto mais usa o recurso tecnológico, mais a criança se afasta do social”, explica a médica. “No ambiente virtual, existem programas, como os jogos, que funcionam por meio de estímulos de recompensa. Isso acaba criando um mecanismo parecido com o do vício. Se você corta abruptamente, a criança passa por períodos de abstinência e pode ficar muito ansiosa”, diz.

Para ela, a melhor maneira de redirecionar uma criança que só quer ficar na frente do computador, celular ou tablet é apresentar outras formas de brincar e se divertir e estar presente nessas novas atividades. A preferência deve ser dada a experiências às quais a criança não esteja acostumada, como um piquenique no parque ou um acampamento improvisado na sala. É importante também diminuir o tempo de tela gradativamente, para que o processo seja menos doloroso, tanto para os pais quanto para os filhos.

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