Carlos Stênio é educador, escritor e faz parte da comunidade LGBT. Em entrevista ao Papo de Mãe, ele defende que as crianças precisam crescer sem julgamentos
Ana Beatriz Gonçalves* Publicado em 28/06/2021, às 15h03 - Atualizado às 19h00
Usar a educaçãopara debater assuntos como preconceito e diversidade, é com certeza uma via de diálogo com as crianças dos dias de hoje, que vivem em um contexto tecnológico superlotado de informações. Exatamente por isso, exaltar a resiliência, empatia e compreensão, em um mundo diverso, é mais que necessário.
O biólogo Carlos Stênio pensa o mesmo. Completamente apaixonado pelo mundo animal e integrante da comunidade LGBTQ, ele acaba de lançar a obra infantil "Diário de um Biólogo: Diversidade", que traz como protagonista um garoto autista que descobre que o preconceito é um fenômeno totalmente social, e a natureza é repleta de animais diversos, que se respeitam entre si.
"O livro fala sobre diversidade, e sobre a forma natural que os animais lidam com isso, acredito que conversando sobre com o seu filho ou sobrinho, vai ajudar muito na formação de um adulto responsável e ético. Aquela historia de: 'tenho nada contra, eu super tolero, tenho vários amigos' não existe mais, você tolera seus problemas, um ser humano você respeita e acolhe", afirma o autor.
Estéfano, protagonista de "Diário de um Biólogo", é um menino autista que cresceu visitando o aquário de preservação da vida marinha de sua cidade. Lá, ele faz amizade com Bertha, cientista e bióloga que cria uma poção que transforma qualquer ser humano em peixe!
Questionado o que o levou a escrever o livro, Carlos afirma que o contexto pandêmico colaborou de certa forma para ele perceber que era preciso falar, de uma maneira leve, sobre assuntos importantes como padrões de beleza com crianças e pré-adolescentes.
"Percebi que as crianças estão muito mais ativas na internet, com isso comecei a observar que muitas se comparavam com influenciadores, principalmente na aparência. No livro eu tentei mostrar que não existe apenas um padrão de beleza, que essa diversidade é importante e você precisa se amar, como eu não queria nada clichê, decidi usar os animais para mostrar a importância de uma diversidade rica em diferenças", conta.
O biólogo lembra que chegou a visitar alguns perfis nas redes sociais e ficou impressionado com um garoto de mais ou menos 12 anos com vitiligo. Segundo ele, o menino elogiou um influenciador na plataforma TikTokpor sua "pele perfeita". "Queria ter esse pele, não gosto da minha", comentou. "Foi nesse exato momento que nasceu o primeiro personagem. Basicamente observei muito nas redes sociais, e a partir dai, fiquei pensando que seria legal a criança ter um livro sobre diversidade em casa, talvez comentários como esses poderiam diminuir."
Carlos Stênio explica que o conteúdo de ciências biológicas é um caminho para falar sobre diferenças. "Existem peixes cheios de manchas, tortos, faltando um olho, ou com dentes grandes, luzes na cabeça, que trocam de sexo para acasalar, ou até mesmo animais homossexuais, que vivem dessa forma e são tratados do mesmo jeito que outros da mesma espécie. Não existe aquele padrão de família tradicional ou de beleza", ressalta.
Com ilustrações assinadas pelo oceanógrafo Gilberto Junior (@artemundosoceanicos), o livro é visualmente bastante colorido e elaborado para as crianças, entretanto, o escritor acredita que ele pode ser lido em qualquer idade.
Precisamos ir muito além do básico. Ensinar as crianças a crescerem sem o hábito de julgar ou apontar para diferenças é a base para que cresçam num mundo receptivo e amoroso. Temos a obrigação de construir uma sociedade melhor e de proporcionar um mundo mais empático, mais justo, porque todos ganhamos quando convivemos com a diversidade.
*Ana Beatriz Gonçalves é jornalista e repórter do Papo de Mãe