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O impacto da saúde mental das mães

A saúde mental das mães impacta necessariamente no desenvolvimento e no crescimento saudável dos filhos

Kênia Braga* Publicado em 16/02/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h36

Prioridade: As mulheres precisam se cuidar para cuidar dos filhos
Prioridade: As mulheres precisam se cuidar para cuidar dos filhos

A sua saúde mental de uma mãe deveria ser vista como uma prioridade. Mas na realidade, sempre que uma mãe resolve parar suas exaustivas funções e priorizar a saúde mental, elas são julgadas e o resultado disso são mães sofrendo silenciosamente com depressão, síndrome do pânico, transtornos de ansiedade, entre outras psicopatologias importantes.

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A gestação pode aumentar o risco de problemas mentais?

A gestação desencadeia mudanças físicas, emocionais, sociais e necessita de uma grande adaptação profissional e pessoal, muitas vezes comprometendo a saúde mental. Durante a gravidez e após o parto, observa-se um aumento do risco de problemas de saúde mental nas mulheres.

Normalmente as mães lidam com um nível de ansiedade alto em decorrência das preocupações com a gestação e as mudanças do corpo e posteriormente com o ajustamento de suas funções maternas e adequações em variados contextos de vida durante a chegada do bebê. Doenças mentais nas mães, podem deflagrar consequências graves, chegando até mesmo ao infanticídio.

Fatores de Risco para Depressão nas Mães

Dentre os fatores preditores para depressão estão: a gravidez de risco ou partos complicados, histórico de psicopatologia, gravidez não planejada, situações financeiras ruins ou desemprego, stress crônico ou má relação com a própria mãe, falta de apoio familiar, ausência de amigos, estado civil, problemas de humor da mãe durante a gestação, conflitos com o parceiro, autoimagem negativa, maternidade precoce, separação conjugal, abuso psicológico, agressão, luto de algum ente querido, o temperamento da criança; entre outros.

Mães saudáveis filhos saudáveis

A saúde mental das mães impacta necessariamente no desenvolvimento e no crescimento saudável dos filhos. A consciência de que a saúde mental da mãe requer o mesmo cuidado que a saúde física, eleva as chances de manter mãe e filho saudáveis na gestação e no puerpério.

Os transtornos mentais associados a maternidade merecem destaque, pois afetam milhões de pessoas no mundo inteiro, cerca de 10% das mulheres grávidas e 13% das mulheres, sofrem de um distúrbio mental, principalmente a depressão, um número bem expressivo, considerando ainda os casos que não são notificados.

Uma análise recente mostrou que cerca de 20% das mães em países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, experimentam a depressão pós-parto. No Brasil, especificamente, o índice é bem preocupante: cerca de 15,6% durante a gravidez e 19,8% após o parto sofrem de distúrbios mentais. Mas os principais problemas relacionados a maternidade, vão muito além da depressão pós-parto ou hormônios; a morte por automutilação e suicídio também é um fator alarmante entre mulheres grávidas, de acordo com a Revista Pan Americana de Salud Pública, entre 2,7% a 10,9% das mulheres grávidas apresentam ideação suicida.

Em casos mais severos, o sofrimento das mães pode ser considerado incapacitante de elaborações, levando a cometerem o suicídio, neste sentido ocorrem também problemas como lesões auto infligidas (maior causa da morte que o próprio suicídio) e a execução do ato.

A psicose também é um problema de saúde mental na maternidade, em alguns casos conduz ao suicídio e proporciona variados prejuízos ao recém-nascido e aos familiares. Também não podemos esquecer do alto número de incidência da depressão, que tem prevalência em cerca de 20% das mulheres grávidas. A depressão causa enorme sofrimento e incapacidade e reduz a resposta às necessidades da criança e saúde mental de ambos.

Tratar a depressão das mães possibilita uma evolução no desenvolvimento do recém-nascido e reduz a probabilidade de desnutrição e o desencadeamento de quadros psicopatológicos na vida da criança. A doença mental persistente, não tratada, compromet e o vínculo mãe-bebê, a amamentação e o cuidado infantil, ocasionando ainda, problemas familiares e predispõe quadros psiquiátricos sérios.

Um acompanhamento psicoterapêutico da mãe pode ser sugerido como uma intervenção preventiva das psicopatologias citadas neste artigo, quando reconhecido algum dos fatores preditores para problemas de saúde mental. Identificar precocemente situações ou sintomas, é o primeiro passo para indicação de acompanhamento especializado na área da saúde mental da mãe.

*Kênia Braga, diretora e fundadora da VIVAPLENA – Saúde Mental Clínica e Corporativa.

www.vivapleno.com.br

Instagram : @vivapleno

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