Entre 2017 e 2019 o Estado brasileiro matou mais de duas mil e duzentas crianças e adolescentes. Foi capa da "Folha" e nem isso chamou a nossa atenção.
Roberta Manreza Publicado em 18/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 19h54
No Brasil, todos os dias, duas crianças são mortas por policiais.
Não teve manifestação, nem # de artistas. Não rolou movimento, nem ninguém perdeu cargo no governo. A notícia passou como tantas outras. E isso explica o país que somos.
Entre 2017 e 2019, o Estado brasileiro matou mais de duas mil e duzentas crianças e adolescentes. Foi capa da “Folha” e nem isso chamou a nossa atenção.
Nossas crianças que são vítimas de uma escolaridade pobre, de condições quase desumanas de moradia, vítimas da falta de saneamento básico, de boa saúde e alimentação saudável, como se não bastante, ainda precisam se proteger da polícia, que devia protegê-las.
Como construir um país diferente se nosso povo não protege suas crianças?
A sensação é de total impotência. Infância deveria ser prioridade, mas para os governantes do nosso país, para os homens de poder, e para grande parte da sociedade, cuidar da infância é trabalho menor de mulheres e “maricas” tontas que não tem mais o que fazer. Porque o que importa no mundo é a grana e as armas que eles vendem. A grana e as armas que matam nossas crianças. Somos um país tão atrasado que nesse exato momento o governo está propondo colocar imposto aos livros, e tirar o imposto das armas. E nem isso parece nos abalar.
Falamos muito de machismo, mas este é o pior tipo que precisamos enfrentar. O machismo que não nos permite enxergar que os rumos tomados pelos homens conservadores são violentos, retrógrados e vão nos levar a uma situação insustentável.
Está na infância a possibilidade de construir um mundo mais equilibrado e justo. Mas enquanto a sociedade ignorar a importância e o protagonismo infantil, estamos fadados ao desastre.
E não estou dizendo a velha frase: as crianças são o futuro. Estou dizendo, ou cuidamos delas hoje, ou estaremos nas mãos de Bolsonaros e outros machos retrógrados, sofrendo as consequências de suas ignorâncias e de seus negócios impiedosos.
Nenhum país que mata através de seus policiais duas crianças por dia (e tem Estados que nem contabilizam os números), tem a chance de ser uma nação de verdade.
Hoje, deveríamos estar nas ruas, exigindo trocar todo o comando da polícia, e determinando que nenhuma criança mais seja assassinada pelo Estado brasileiro. Mas fomos educados para achar que isso é normal.
Fomos educados? Você recebeu uma boa educação de verdade?
Pense bem.
Não cuidar das crianças é o melhor jeito de manipulá-las no futuro.