Papo de Mãe

Dor, analgesia, anestesia e parto

Roberta Manreza Publicado em 04/06/2018, às 00h00 - Atualizado em 02/07/2018, às 09h42

Imagem Dor, analgesia, anestesia e parto
4 de junho de 2018


Por Cinthia Calsinski*, enfermeira obstetra

A dor, especialmente a dor do parto se manifesta através de componentes somáticos (dor visceral, física), aspectos subjetivos (medo, insegurança) e fatores socioculturais (parto e dor como indissociáveis). Aliviar esta dor é possível por meio de métodos não farmacológicos e farmacológicos.

Cinthia Calsinski especialista em obstetrícia com mestrado e doutorado em enfermagem, explica que entre os métodos não farmacológicos estão fatores ligados ao emocional da mãe: o apoio e presença de alguém significativo (o marido, uma doula, amiga) durante o trabalho de parto, por exemplo. E técnicas como, banho de imersão (banheira), de aspersão (chuveiro), massagens, hipnose, acupuntura, eletroestimulação. Todos os procedimentos foram avaliados como eficazes no alivio a sensação de dor, sempre respeitando as características individuais da gestante.

A dor no parto é relacionada tanto as contrações uterinas responsáveis pela dilatação do colo do útero, quanto com a descida e passagem do bebê pelo canal de parto em direção ao meio exterior. Pode ser atenuada através da analgesia, que é a supressão da dor por meio de drogas ou procedimentos não farmacológicos e também por meio assim da anestesia, onde há perda total da sensibilidade da parturiente.

“O momento “ideal” para a administração de um método farmacológico é amplamente discutido, uma vez que como qualquer medicamento a sua utilização não é isenta de efeitos adversos como: parto instrumental (fórcipe e vácuo extrator), relaxamento acentuado dos músculos do assoalho pélvico causando retardo para a rotação da cabeça, diminuição do reflexo de fazer força (expulsão do bebê), e redução da contração uterina aumentando assim o tempo do trabalho de parto e induzindo ao uso de ocitocina para reverter o quadro.” Explica Cinthia Calsisnki.

Segundo o Ministério da Saúde e o American College of Obstetricians e Gynecologists sempre que a mulher se queixar de dor e solicitar alivio está indicada a analgesia/anestesia. Porém, é importante citar que o procedimento pode causar efeitos adversos: queda da pressão arterial da mãe, aumento da necessidade do uso de ocitocina, aumento da duração do trabalho de parto, diminuição dos batimentos cardíacos do bebê, náuseas, vômitos, depressão respiratória materna, dor de cabeça pós-anestesia, entre outros. A analgesia/anestesia é contra indicada em casos de sangramento no momento do parto, quando existir o uso de anticoagulantes e distúrbios de coagulação.

Cinthia conta que poucos sabem que o índice de APGAR, a “nota” que se dá ao bebê ao nascer, foi criada com o intuito de mensurar os efeitos da analgesia no recém-nascido. Desta maneira, o ideal é ter uma equipe de parto que respeite as escolhas da mãe, que inicie o tratamento por estratégias de menor para maior complexidade, conforme a necessidade, respeitando a maneira individual de cada gestante de lidar com a dor.

“Vale lembrar que parto humanizado não é sinônimo de parto sem anestesia e sim de parto onde as escolhas da mãe em relação a ela mesma e ao seu bebê são respeitadas sempre que as condições clínicas permitirem.” Completa a enfermeira obstetra.

*Cinthia Calsinski é Enfermeira Obstetra, Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo.




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