Papo de Mãe

Seu filho precisa de terapia?

Roberta Manreza Publicado em 11/03/2015, às 00h00 - Atualizado às 17h15

Imagem Seu filho precisa de terapia?
11 de março de 2015


Um comportamento diferente ou uma dificuldade inesperada de seu filho, um acontecimento traumático, uma reação surpreendente: o que pensar e qual atitude tomar na hora em que bate a dúvida de procurar um psicólogo. Saiba aqui que tipo de situação, quais especialistas você vai encontrar e por que não há razão para ter preconceito ou se sentir fracassado

Por Cristiane Rogerio – Revista Crescer

tédio; entediado; ansiedade; depressão; tristeza; criança (Foto: Thinkstock)

Quando planejamos ou temos um filho, a felicidade e a responsabilidade são tão grandes que muitas vezes nos parece uma missão impossível. Mesmo que a jornada já tenha começado. Diante de um conflito – de não conseguir que a criança saia da frente da TV até como fazê-la entender que seus pais não vão mais morar juntos –, é legítimo achar que a força de ser mãe ou ser pai vai desmoronar. Mas também legítimo é entender que pode precisar de ajuda. De alguém da família, de um educador da escola, de um amigo ou, sim, de um terapeuta. Mas quem é esse profissional? Como entender esses vários “psis” disponíveis?

Psicólogo, psicanalista, psicopedagogo e psiquiatra são alguns dos especialistas apoiadores dos pais, desde um caso de transtorno comportamental diagnosticado a uma dificuldade pontual emocional. Ah, mas antigamente não precisávamos deles, alguém pode dizer. Verdade, sabe por quê? Antes sabíamos menos sobre o que se passa na infância. “O preconceito contra esse tipo de atuação profissional está diminuindo porque temos informações melhores”, diz o pediatra Eduardo Juan Troster, coordenador da UTI Neonatal do Hospital Albert Einstein (SP). “As questões da saúde evoluíram tanto que é praticamente impossível só um profissional dar conta de um ser humano do ponto de vista clínico, orgânico, mental, emocional”, diz a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo (SP).

Claro que não é fácil enxergar um problema no filho. Para ninguém. Qual pai ou mãe não luta todos os dias para que ele seja feliz? “Os pais têm sempre um filho imaginado, e, às vezes, não conseguem aceitar o filho real, assumir para si mesmo que ele é diferente do esperado. É difícil não se culpar, não se decepcionar ou até sentir um certo ciúme de que outra pessoa vai ajudá-lo e não você”, diz Gina Khafif Levinzon, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Outra dificuldade pode ser a de não querer acreditar que o filho, de fato, tem algum problema e sempre buscar uma justificativa para o comportamento dele. Aceitar a realidade não quer dizer que você falhou.

Mas quando procurar ajuda?

Há dois sinais mais fortes. “Primeiro, se a criança ou adolescente tem um problema acadêmico. Não uma nota baixa, mas quando realmente se percebe que não está aprendendo. Segundo, se tem algum prejuízo de relacionamento social. Se exclui ou é excluído, é impulsivo demais, fica isolado no recreio, não tem amigos. Com a criança sofrendo, investigue”, diz o psiquiatra Gustavo Teixeira,  autor dos livros Manual Antibullying e Desatentos e Hiperativos (ambos da Ed. BestSeller).

Juntos pela criança

Parceria e foco são fundamentais. “Não adianta ter uma série de intervenções se os pais possuem uma conduta inapropriada. Indiretamente, eles quase que passam por um processo terapêutico também”, diz o psiquiatra Paulo Germano Marmorato, coordenador do Ambulatório de Socialização, do Serviço de Psiquiatria da Infância e do Adolescente do Hospital das Clínicas (SP). “Muitos temem que a criança fique dependente da terapia. Mas, na verdade, o objetivo é justamente fazer com que ela caminhe sozinha”, afirma Gina Levinzon.

Por isso, para Marmorato, os pais precisam saber o que está acontecendo com a criança o tempo todo. “Para entenderem que tipo de proposta o profissional oferece. É um ‘o que vamos fazer para que seu filho consiga lidar melhor com o que está acontecendo’”, afirma ele, que também é psicoterapeuta. “O profissional verá primeiro os pais, perguntará sobre a concepção e o parto, os primeiros anos de vida, se teve doenças, como é a questão da alimentação, sono etc., e qual a queixa. Só depois a criança entra e, se necessário, começam as sessões”, explica Rita Calegari. Nelas, a criança vai ser submetida a testes específicos, mas ela achará que está brincando. “A gente avalia tudo, pensa nos encaminhamentos, que podem ser desde a terapia, uma consulta a um neurologista ou até fazer uma atividade física”, diz a especialista.

As alterações de comportamento da criança são mais facilmente percebidas na escola. “O diagnóstico de um problema é frequentemente feito pela professora, que tem contato quase todos os dias do ano com a criança”, afirma Troster.

Paciência e foco

Se o diagnóstico exige habilidade do profissional, o tratamento pede paciência. É bem diferente de identificar um sintoma, levar ao médico, fazer o exame no laboratório, tomar o remédio e aguardar a cura. O tempo do tratamento varia conforme o caso e o método.

Paciência, rede de assistência e informação são os ingredientes principais, não só na hora de optar por levar a criança ao terapeuta, mas para lidar com ela todos os dias. “Criança não vem com manual, todos erram e podem corrigir seus erros”, diz a psicóloga Ceres de Araújo, professora da PUC-SP. “A ideia é ajudar os pais a desenvolverem melhor a capacidade de ser pais daquela criança”, diz a psicanalista Gina Levozin.

Para cada caso, uma ação

Os sintomas e diagnósticos variam. Fundamental é o primeiro profissional a atender a criança – seja o pediatra, psiquiatra, psicólogo ou psicanalista – fazer o encaminhamento necessário. Aqui, alguns exemplos dos casos mais comuns que chegam ao consultórios

criança; tristeza; lei da palmada (Foto: Thinkstock)

Meu marido e eu nos separamos e ainda não sabemos como fazer nosso filho, de 2 anos, entender a situação como definitiva.
Mais do que o cuidado focado na criança, a primeira boa orientação profissional deve ser digirida aos pais, que não podem perder o foco de que conjugalidade é uma coisa, e paternidade, outra. “O bom senso deve ser mantido, assim como a comunicação amistosa, com o objetivo de assegurar a saúde mental do seu filho”, diz a terapeuta Regina Glashan. É bom também não subestimar a criança, que já percebe o que está acontecendo.

Minha mãe faleceu de forma inesperada e não sei como lidar com minha filha, de 3 anos, que não para de perguntar pela avó.
A orientação para dificuldades em lidar com a morte sempre varia do grau de proximidade da pessoa que faleceu e a idade da criança. Primeiro, é preciso observar. “Às vezes a criança nem chora, mas manifesta a falta brigando o tempo todo”, diz a psicoterapeuta Maria Helena Franco. Ou, ao contrário: ela pode estar aparentemente bem, mas fazendo perguntas. “Converse com a criança com sinceridade. Tudo com limite, mas esconder sentimentos dela pode só deixá-la mais angustiada. A criança vive a tristeza, sim, e precisamos validar isso.” Em casos mais duradouros, a terapia específica do luto pode ajudar a família toda.

A timidez de meu filho de 6 anos faz com que  ele não se enturme com outras crianças e o está prejudicando na escola.
Se a timidez em excesso atrapalha o convívio social, seria interessante procurar uma ajuda psicológica. “Inicialmente se faz uma avaliação para saber quais os motivos que o levam a se sentir tão retraído, que podem ser questões familiares ou individuais”, aponta a psicanalista Gina Levozin. Para ela, esse grau de timidez pode mostrar insegurança e o trabalho é recuperar a confiança dele em si e no ambiente.

Minha filha acaba de completar 7 anos e está apresentando dificuldade com a leitura e com o básico de matemática.
Em primeiro lugar, é preciso esgotar os recursos da escola, saber que todas as possíveis intervenções já foram feitas. “Se a escola percebe que isso continua e que a criança não está acompanhando a turma pode ser hora de procurar um psicopedagogo. ‘Ir ou não bem na escola’ nesta fase tem a ver com a construção da autoestima e é fundamental mostrar a ela que pode aprender”, explica Quézia Bombonato, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia.

Minha filha tem 4 anos e eu simplesmente acho que ela anda triste.
Para a psicóloga Ceres de Araújo, existem diferentes tipos de tristeza. “Uma criança pode estar doente, anêmica, apática e parecer triste. Ou demonstrar isso quando não é o centro das atenções. Ou pode até ser um sintoma de depressão.” Sim, a doença acontece com crianças pequenas e o melhor a fazer é observar se ela persiste e, nesse caso, procurar ajuda.

E QUANDO O PROBLEMA É COM OS PAIS?
Sensíveis ao que as rodeia, as crianças podem apontar os problemas, mas não ser a fonte. Ou seja: pode não estar acontecendo nada com o filho, mas é ele quem vai revelar a dificuldade da família. E não apenas estamos falando de casais em conflito – chegando à separação ou não –, perda de emprego de um dos pais, ou outro fator traumático no dia a dia, em que os adultos estejam “pedindo socorro”. Mas também de casos em que a questão seja a exagerada expectativa dos pais e a comparação desmedida com outras crianças. Segundo os especialistas, chegam ao consultório os mais diversos casos. “Desde separações em litígio, ou alguém deprimido, até pais muito invasivos, que exigem demais da criança e do desenvolvimento dela”, explica a psicanalista Gina Levozin. Muitas vezes os pais procuram o especialista, mas apenas uma conversa já resolve, até com o encaminhamento deles a uma terapia em separado. “A orientação pode ser suficiente. Informação correta acalma ansiedades”, diz a psicóloga Ceres de Araújo.

Assista ao Papo de Mãe sobre Depressão Infantil: 




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