Papo de Mãe

Família margarina

Roberta Manreza Publicado em 10/03/2015, às 00h00 - Atualizado em 13/03/2015, às 14h09

Imagem Família margarina
10 de março de 2015


Carolina Ambrogini, obstetra e sexóloga* 

Dra. Carol coluna (Foto: Reprodução)

A sensação que temos ao ver a imagem de uma família feliz em um comercial de televisão é a de harmonia. Talvez por isso nos venha à mente a ideia de perfeição. A palavra é linda, mas manter a harmonia em uma família não é algo tão simples, muito menos quando envolve a criação de filhos.

O delicado equilíbrio entre um casal é invariavelmente desestabilizado quando um novo integrante nasce, mesmo se foi muito esperado. Todo um rearranjo de funções e códigos precisa ser feito para que surja de novo o equilíbrio.

Os papéis de pai e mãe vêm impregnados de nossas próprias referências familiares e culturais, transformando-nos em pessoas diferentes daquelas que éramos. Por algum tempo, marido e mulher irão orbitar ao redor da criança, maravilhados com aquela intensa forma de amar e, lentamente, voltam a se olhar, a se reconhecer (ou não) como par.

Não quero jogar um balde de água fria na família-margarina idealizada por nós desde sempre. Acho que os filhos trazem um laço fortíssimo para o casal, mas eu seria muito romântica se negasse os conflitos que podem surgir com a chegada deles. É para se assustar? Não, querida leitora, é para ser realista e encarar a nova fase com calma e naturalidade até que uma nova ordem se estabeleça. Todo casal tem seus pontos de desavenças e educar filhos exige muito jogo de cintura dos dois lados.

Saber que a tal harmonia é conquistada árdua e diariamente, com muito diálogo, concessões e tolerância, é sabedoria. Vá ao que é essencial para você, foque sua energia em discussões importantes e releve as toalhas molhadas em cima da cama. Dê um pouco de liberdade para o seu companheiro, não implique com o futebol e se permita momentos de diversão também. Vocês estão casados e não fundidos um ao outro, cada um precisa ter o seu próprio espaço.

Algumas decepções podem aparecer com a nova conformação familiar. Ele não é aquele paizão que você imaginava? Tente ver o pai que ele pode ser, sem idealizações. Não ajuda com as tarefas de casa? Converse. Nesse mundo moderno em que a mulher também trabalha não há vez para homem preguiçoso ou machão, sinto muito! Vocês só brigam? Faça primeiro uma reflexão sobre os seus pontos fracos e tente conversar, em vez de brigar. Escolha um momento de paz para essa conversa, assuma diante dele suas possíveis falhas e se mostre aberta a achar uma solução em conjunto.

Antes de desistir da relação, tente a terapia de casal. Com a ajuda de um especialista, a conversa é intermediada com mais neutralidade e várias técnicas podem ser utilizadas para que o casal se reencontre em meio às diferenças. O convívio diário não é tarefa fácil mesmo para um casal que se ama, mas o final feliz é possível, sim – igualzinho àquele do comercial, talvez com uma maquiagem para esconder as olheiras…

Este texto foi publicado na edição 250 (setembro, 2014), na Revista Crescer.

*Dra. Carolina Ambrogini é obstetra, sexóloga e mãe de 2 filhos. Coordena o Projeto Afrodite, da Universidade Federal de São Paulo e é colaboradora do Portal Papo de Mãe. Site: www.carolinaambrogini.com.br




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