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O protagonismo da amamentação deve ser da mãe e do bebê

A mãe polvo com excesso de cursos, lives, livros, especialistas e palpiteiros. A informação é importante, mas como fica o protagonismo da amamentação?

Dr.  Moises Chencinski* Publicado em 19/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 14h48

Imagem O protagonismo da amamentação deve ser da mãe e do bebê

Um dos maiores problemas, quando aparece um problema, é que todos, do nada, viram problemologistas e entendem de tudo sobre o problema, achando, inclusive, a única e a mais correta solução para o problema.

Assim, hoje, temos tantos “cientistas especialistas” discutindo sobre a COVID, sua origem, sua transmissão, sua propagação, sua prevenção, seu tratamento precoce que funciona ou não funciona, número de vagas de UTI, grupos de risco, se a máscara protege, qual máscara protege mais, se isola, se distancia, lockdown, taxas de vacinação absolutas, taxas por 100 habitantes, se a pandemia melhora, piora, até quando ela vai…

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São tantos que eu fico imaginando onde estavam todos esses “cientistas” nas estatísticas do IBGE ou sobre profissões mais procuradas no Brasil. E, mais intrigante, é que isso se transforma em uma “guerra de seitas”, com pessoas se ofendendo através das redes sociais, sem sequer conhecer o seu “oponente”.

Xô xuá

Cada macaco no seu galho

Xô xuá

Eu não me canso de falar

(Cada Macaco no seu Galho – Compositor: Riachão – gravada por Gil e Caetano –  1972)

Imagino, também, todos os cursos de “ciência”, “pesquisa” e “medicina” com uma grade programática variada.

08:00 – 09:00– Live sobre as novas vacinas de COVID.

09:00 – 10:00– Leitura de sites nacionais de notícias sobre a situação da COVID no Brasil.

10:00 – 10:30– Pausa para um cafezinho e para entrar no grupo do Whatsapp da família para brigar e nunca mais conversar com o primo que é PTista / bolsonarista e que acha que tudo é uma questão política e que a “culpa” é sempre do outro.

10:30 – 11:30– Entrevista na TV com o infectologista do momento (são muitos e competentes) para aprender termos e conceitos fundamentais e corriqueiros no nosso dia a dia como “correlato de proteção”, “IFA”, nomes de cidades que, com certeza, serão temas de debates como Wuhan, Guangzhou, Shaanxi, Sichuan, Fujian, Henan e Yunnan.

11:30 – 12:30– Debater as ações do governo de cada cidade/estado/país sobre fechar/abrir o comércio/escolas/supermercados/jogos de futebol para todos/quem foi vacinado, número de mortes e…

Nem preciso continuar, né?

Mas o texto não se refere à COVID ou a política, juro. Vamos deixar esse tema, por ora, para os especialistas de verdade debaterem, estudarem e solucionarem.

– Quantos “especialistas” já passaram pela tua vida desde que você engravidou, gestou, pariu e agora… está amamentando?

– Quantos cursos você já fez para se preparar ou para evitar ou solucionar problemas que você nunca teve/tem/”terá com certeza”?

– Quantas amigas já te deram sugestões sobre como resolveram a questão do sono do bebê a noite toda desde o 2º mês de vida?

– Quantas lives você assistiu ou quantos livros milagrosos você leu que te garantiram que tem uma “forma simples, mas tão simples, que não entendem como ninguém te disse isso antes” sobre como amamentar sem problemas, sem fissuras, sem dor, sem perder o sono?

– Quantos profissionais de saúde você já consultou que te ofereceram soluções menos sofridas para passar por essa fase tão difícil (são simpáticos, né?) como chupeta (para acalmar que todos os familiares já usaram), mamadeira (que outros podem dar enquanto você dorme um pouco), bicos de silicone (para não machucar mais o mamilo)?

Mas…

– Quantas pessoas perguntaram como você está, o que você está sentindo, o que você quer fazer a respeito da amamentação, suas necessidades no momento?

– Quantas pessoas te confortaram, te escutaram de verdade, não te julgaram (empatia que fala, né?) e te disseram que tudo está bem e vai ficar bem e que estavam muito impressionados com tudo o que você está conseguindo fazer, apesar de todos os desafios e todas as suas ocupações?

Informação é importante sim.

Mas mesmo as informações precisam de TEMPO para serem escutadas, sentidas, absorvidas, analisadas e fixadas.

Mas onde está você na fila do pão? E a tua intuição? Teu instinto?  Teu tempo?

Tantos cursos, tantas informações, tantos sábios, tantos conselhos…

Será que tudo isso não tira de cada mãe a sua certeza, sua segurança, sua verdade, seu empoderamento natural, sua sensibilidade?

Por que é tão necessária essa validação externa para que cada mãe possa, enfim, seguir seu caminho?

Há muito tempo, quando na maternidade estavam o obstetra e o seu assistente, o anestesista e sua auxiliar, o pediatra e seu auxiliar, a enfermeira, a auxiliar de enfermagem, a circulante de sala, e começaram a entrar o filmador do parto e o pai (11 pessoas para não perder a conta) para uma só mãe e um bebê que estava por nascer, eu dizia que já tinha passado da hora de devolvermos o protagonismo do parto para a mãe.

Acho que já passou da hora de devolvermos o protagonismo da amamentação para a mãe e para o bebê.

E nós? Estaremos atentos, ao lado, formando a rede de apoio específica para cada mãe, dentro dos seus anseios, de suas necessidades, de sua maternidade.

*Dr.  Moises Chencinski é pediatra e homeopata.

Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Autor dos livros HOMEOPATIA mais simples que parece, GERAR E NASCER um canto de amor e aconchego, É MAMÍFERO QUE FALA, NÉ? e Dicionário Amamentês-Português
Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Criador do Movimento Eu Apoio leite Materno.

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