Papo de Mãe
» EDUCANDO E APOIANDO

Amamentar: Que assim seja, amém. Só rezando?

Amamentar não começa e não acaba quando o bebê é colocado ao seio materno e mama

DR. MOISES CHENCINSKI* Publicado em 28/06/2022, às 09h55

Ainda acha que amamentar é natural, simples e fácil?
Ainda acha que amamentar é natural, simples e fácil?

Há muitos passos e muita expectativa até que todo o processo se encaminhe e se ajuste.

Que o bebê seja gerado com amor.

Que o pré-natal comece no máximo 15 dias após o teste positivo para gravidez.

Que as consultas sejam marcadas em tempo hábil e adequado.

Que sejam realizados exames previstos e que todos sejam normais.

Que as vacinas sejam aplicadas na gestante (tríplice adulta acelular, Hepatite B, influenza, COVID entre outras).

Assista ao Papo de Mãe sobre rede de apoio à amamentação.

Que a partir da 32ª semana, seja agendada uma consulta com o pediatra, para esclarecimentos de dúvidas da gestante e companheiro/a.

Que com todos esses cuidados, a gestação dure 9 meses.

Que o parto aconteça em um hospital amigo da criança e da mãe (mesmo que não tenha esse título oficial – são só 307 no Brasil).

Que o nascimento aconteça, pelo menos 85% das vezes, via vaginal, com APGAR (as notinhas do bebê) 9 e 10.

Que se o parto acontecer antes do tempo previsto, todos os cuidados sejam no sentido de se preservar a vida e que o prematuro possa receber o leite de sua mãe ou o leite doado de outras mães, através dos bancos de leite, com todos os seus cuidados de segurança e prontidão.

Que seja cumprida a Hora de Ouro (ou Golden Hour) com o corte oportuno de cordão (quando ele parar de pulsar).

Que a seguir se faça o contato pele-a-pele.

Que a primeira mamada aconteça no máximo após uma hora, ainda na sala de parto.

Que mãe e bebê (a dupla) possam permanecer na maternidade pelo tempo suficiente, em alojamento conjunto.

Que a equipe de saúde materno-infantil providencie todos os cuidados necessários (vitamina K, vacinas – BCG e Hepatite B).

Que se façam os testes necessários (pezinho, olhinho, coraçãozinho, orelhinha e o da linguinha – BRISTOL).

Que se faça a observação da mamada, do começo ao final, nas duas mamas (pega, posição, começo e final da mamada).

Que passem (a dupla mãe-bebê) por manejo adequado da amamentação para que não haja riscos na internação e após a alta.

Que se oriente adequadamente o que for necessário para que mãe, bebê, o pai (ou acompanhante) saiam da maternidade esclarecidos e encaminhados.

Que a família chegue em casa e possa se ajustar, de acordo com suas programações, em questões de banhos, sono, amamentação, entre outras.

Que a primeira consulta com o pediatra seja entre o 5º e o 7º dias de vida.

Que nessa consulta tudo esteja bem, que o pediatra seja acolhedor, atualizado em questões de puericultura (amamentação, imunização, sono, higiene ambiental e outras orientações) e aconselhamento (escuta ativa, empatia, sem julgamento).

Que o bebê, em aleitamento materno exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês, ganhe peso, cresça em comprimento e em perímetro cefálico (precisa medir).

Veja também: 

Que a família saia da consulta informada, orientada, com suas dúvidas esclarecidas.

Que após o estabelecimento adequado da amamentação, o leite excedente possa ser doado em algum posto de coleta ou banco de leite da Rede de Bancos de Leite Humano (rede BLH), seguindo todos os critérios de segurança.

Que a mãe-doadora receba todas as orientações necessárias para promover a extração e armazenamento seguros do leite humano, até que ele chegue aos bancos de leite.

Que esse leite possa alimentar todos os prematuros internados (11% dos partos) no Brasil.  Que quando a mãe voltar ao trabalho, ela simplesmente passe a direcionar esse leite doado ao seu bebê, acondicionado 12 horas na geladeira ou congelado por no máximo 15 dias.

Que as consultas sigam as rotinas em periodicidade determinadas para as boas práticas de saúde.

Que mãe e pai possam usufruir ao máximo de suas licenças maternidade (180 dias parta todas as mães) e paternidade (20 dias para todos), enquanto não temos a licença parental mais justa.

Que o aleitamento materno seja exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês.

Que só então seja feita a introdução alimentar de acordo com as recomendações do Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos.

Que todas as mães possam voltar ao trabalho no 6º mês, em Empresa-Cidadã, com direitos respeitados e tempo para extrair e armazenar seu leite para deixar para seus filhos enquanto estiver trabalhando, em uma sala de apoio à amamentação adequada.

Que as creches tenham a rotina para receber, armazenar e oferecer o leite que cada mãe extrair e direcionar para seu bebê, enquanto ela estiver no trabalho.

Que a amamentação prossiga até 2 anos ou mais, ou o desmame oportuno, exclusiva e em livre-demanda até o 6º mês.

Que em qualquer momento em que aconteça qualquer problema ou situação que coloque a amamentação em risco, as lactantes e os lactentes possam ter o necessário acompanhamento ágil e rápido, disponibilizado quer seja pelo SUS quer seja por planos de saúde ou na rede privada, por profissionais atualizados, capacitados e habilitados nos cuidados de saúde materno-infantil.

Que todas essas possibilidades sejam garantidas por políticas públicas adequadas, com uma rede de apoio ampla e acolhedora, para todas as díades (mãe-bebê). E que fique claro que isso não é tudo. Tem mais.

Ainda acha que amamentar é natural, simples e fácil?

FORTALECER A AMAMENTAÇÃO. EDUCANDO E APOIANDO.

Tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno de 2.022.

*Dr.  Moises Chencinski , pediatra e homeopata.

Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Papo de Mãe. 
Amamentação / AlimentaçãoColunistasMoises ChencinskiBebê